Aquele Gilberto Dimenstein antes do câncer morreu.
Nasceu outro.
mas desejo para todos a profundidade
que você ganha ao se deparar com o limite da vida.
Não queria ter ido embora sem essa experiência.
Grande parte da minha vida foi marcada
pelo culto a bobagens: ganhar prêmio,
assinar matéria na capa,
o tempo todo pensando no próximo furo.
É como se estivesse passando
por um lugar lindo num trem em alta velocidade,
vendo tudo borrado.
Quando você tem um câncer
(ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas,
um tipo muito agressivo),
não há alternativa.
Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.
E aí começam a aparecer coisas incríveis.
Gosto de andar de bicicleta,
e comecei a sentir o vento no rosto,
como se estivesse sendo beijado.
Você vê seu neto deitado com você
[Dimenstein tem um neto de dois anos
e espera o segundo para daqui a seis meses].
Acorda com os bem-te-vis e escuta os bem-te-vis.”.
Inspiradora matéria na Folha de São Paulo de hoje.