"Em 1980, Mohammad Reza Pahlavi,
o xá do Irã, era um dos aliados
mais importantes dos Estados Unidos.
Quando um câncer no sistema linfático (linfoma) o fez adoecer de repente, Washington fez questão de oferecer o que havia de melhor na medicina americana.
Michael DeBakey, o mais famoso cirurgião do mundo, chegou rapidamente ao Oriente Médio.
Recomendou uma cirurgia imediata de remoção do baço.
Nesse tipo de operação, há o risco de perfurar o pâncreas acidentalmente. Para evitar complicações, uma precaução básica é instalar um dreno cirúrgico.
Ele evita que o fluido pancreático fique acumulado no corpo do paciente e provoque uma infecção. Confiante em sua habilidade, DeBakey não colocou o dreno.
Ao final da cirurgia, declarou que a operação fora um sucesso. Recebeu medalhas e virou um herói no Oriente Médio. Pouco tempo depois, o xá começou a ter febre e vômitos. A infecção, combinada ao agravamento do linfoma, debilitou-o até a morte.
O erro do governo americano, do xá e de sua família foi não ter percebido que DeBakey era um excelente cirurgião cardíaco – não de abdome. Dos 479 artigos científicos que DeBakey assinara, mais de 95% eram sobre cirurgia cardiovascular.
Apenas um mencionava o baço, e, ainda assim, ele não era o autor principal.
A aura de superstar ofuscou a razão de todos os envolvidos. DeBakey errou duplamente.
O excesso de autoconfiança o impediu de fazer o básico. Ou de pedir a ajuda de um especialista.
Se até os poderosos erram ao escolher cuidados médicos, como o cidadão comum pode se defender? "
P.S.:
1. Copiado de ótima reportagem de capa da edição desta semana, da revista Época, sobre a medicina atual.
2. Dr. Michael Ellis DeBakey foi um dos maiores cirurgiões cardíacos da história da medicina.
Aos 97 anos diagnosticou nele próprio um Aneurisma aórtico dissecante. Depois de muito debate o comitê de ética do seu hospital autorizou ele se submeter a um arriscado procedimento cirúrgico que ele mesmo tinha criado para esta situação. Teve um pós operatório complicado, com 8 meses de internamento e uma conta de mais 1 milhão de dólares mas teve alta com boa saúde e viveu mais 2 anos, morrendo aos 99 anos de causa não divulgada.