sexta-feira, 31 de maio de 2013

O nome da musa, Jorge de Lima






Não te chamo Eva,

não te dou nenhum nome 

de mulher nascida,

nem de fada, nem de deusa,
 nem de musa, nem de sibila,
 nem de terras,
nem de astros, 
nem de flores.

Mas te chamo
 a que desceu do luar 
para causar as marés
e influir nas coisas oscilantes.

Quando vejo os enormes campos 
de verbena agitando as corolas,
sei que não é o vento que bole 
mas tu que passas 
com os cabelos soltos.

Amo contemplar-te 
nos cardumes das medusas 
que vão para os mares boreais,
ou no bando das gaivotas 
e dos pássaros dos pólos revoando
 sobre as terras geladas

Não te chamo Eva,
não te dou nenhum 
nome de mulher nascida.

O teu nome deve estar nos lábios 
dos meninos que nasceram mudos,
nos areais movediços 
e silenciosos que já foram 
o fundo do mar,
no ar lavado 
que sucede as grandes borrascas,
na palavra dos anacoretas 
que te viram sonhando
e morreram quando despertaram,
no traço que os raios descrevem
 e que ninguém jamais leu.

Em todos esses movimentos 
há apenas sílabas
 do teu nome secular
que coisas primitivas escutaram 
e não transmitiram às gerações .

Esperemos, amigo,
 que searas gratuitas nasçam de novo,
e os animais de criação se reconciliem 
sob o mesmo arco-íris
então ouvireis o nome 
da que não chamo Eva
nem lhe dou nenhum nome 
de mulher nescida.

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