quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Em defesa da refinaria, Vandeck Santiago. Página 3 do Diário de Pernambuco de hoje. Texto primoroso, isento e impecável.



Para começo de conversa é preciso que se diga: lugar de ladrão é na cadeia, ideologia (qualquer que seja ela) não atenua crime de corrupção e corruptos devem ser tratados com toda a intolerância permitida por lei.
Ponto.
Feita a ressalva, diga-se: a refinaria Abreu e Lima já é um patrimônio de Pernambuco. Foi um dos investimentos que impulsionaram a nossa economia, aumentando e diversificando a oferta de empregos e contribuindo para que nosso crescimento tenha se mantido acima da média do Brasil.
Por enquanto temos muitas denúncias que já estão sendo apuradas, envolvendo recursos da refinaria. A todos nós interessa que esses atos sejam esclarecidos e os culpados, punidos - mas a nós, pernambucanos e nordestinos, não interessa que o empreendimento seja prejudicado. A nós, pernambucanos e nordestinos, não interessa apostar no fracasso no empreendimento ou na criação de dificuldades capazes de lhe atrapalhar o desenvolvimento.
Por que se há um estado nesse país que merecia uma refinaria, por ter condições técnicas de recebê-la, era Pernambuco. E não é de hoje. Lembro da Comissão Pró-refinaria instalada em Pernambuco durante o governo Miguel Arraes (1995-1998). Da campanha feita em todo o país pelo governo pernambucano, enumerando as razões técnicas que justificavam a implantação do projeto em Pernambuco, sobretudo por já contarmos com a infraestrutura do Complexo Portuário de Suape.
Naquele período a Petrobras anunciara a intenção de instalar uma refinaria no Nordeste, o que gerou a mobilização estadual. O Ceará também se mobilizou, apontando o Porto de Pecém como destinatário ideal para o investimento. No final, uma frustração: em vez de implantar uma nova refinaria na região, a Petrobras preferiu ampliar uma já existente na Bahia.
Permitam-me acrescentar outro ponto importante, baseado em conversas sempre proveitosas que tive com a economista Tânia Bacelar. Se você pegar o século 20, verá que nesse período 80% da indústria brasileira estavam no Sul/Sudeste. E que quase a metade da indústria ficava em São Paulo - na cidade, não no estado. Uma concentração brutal, e o Nordeste há décadas sem um grande investimento digno desse nome.
Iniciada em 2006, a refinaria Abreu e Lima entrou em operação no final de 2013. Sabe quanto tempo fazia que a Petrobras não colocava uma refinaria em funcionamento? 34 anos. Um terço de um século. E sabe onde a Abreu e Lima está? No Nordeste, região necessitada de grandes investimentos não só para melhorar a qualidade de vida do seu povo, mas para reduzir o fosso econômico existente entre ela e a parte mais desenvolvida do país (e um Nordeste, que, ressalve-se, tem respondido positivamente aos investimentos, obtendo índices de crescimento superiores ao do país). A implantação de um empreendimento desses numa região pobre sempre traz a necessidade de obras extras, o que numa lógica em que prevalecesse só a eficácia dos gastos tenderia a apontar uma região mais desenvolvida para sediá-la.
Neste momento a refinaria está em fase de corte de empregos, dada a conclusão de obras em que trabalhavam. Uma forma de absorver esse contigente, ou parte dele, seria dar início ao Arco Metropolitano (obra federal), o anel viário de 98 km que ligaria a fábrica Fiat (em Goiana, litoral norte) ao Porto de Suape (Ipojuca, no litoral Sul). Mas o Arco por enquanto reluta em sair do papel.
Este é o momento em que não podemos ser ingênuos. Identificar os culpados e responsabilizá-los por seus atos é bandeira que interessa a todos nós, brasileiros. Mas prejudicar empreendimentos e empresas, tentar levá-los ao fracasso, criar situações de dificuldade para novos investimentos, isso é outra coisa, que oculta outros interesses. A refinaria Abreu e Lima é um patrimônio nosso. Deve ser preservado.