quinta-feira, 26 de julho de 2012

e.e.cummings






nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além
de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio:

no teu gesto mais frágil
há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar
porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar
facilmente me descerra

embora eu tenha me fechado
como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala
por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,
misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente,
de repente,
assim como o coração
desta flor imagina
a neve cuidadosamente
descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber
neste universo iguala
o poder de tua imensa
fragilidade: cuja textura
compele-me com
a cor de seus continentes,
restituindo a morte
e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda
que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,
tem mãos tão pequenas



Tradução. Augusto de Campos

Eu: infelizmente, por uma questão de estética e do tamanho das letras de um blog, tive que mudar os espaços e as linhas do belo poema.