Vejo tudo agora diferente,
como se o tempo contra o rio
dirigisse e de trás pra frente
eu desescrevesse um livro
e cada palavra nele se tornasse
livre e me fizesse livre
e sílaba a sílaba toda memória
desaparecesse - sumisse ! -
como se, na nossa frente, tudo
o que fomos um dia num passe
de mágica evaporasse num passe
de música, num passo - no ar !
Hoje, tudo dá-se a ver sem dor,
limpo, sem um traço de paixão.
Os poemas se apagaram e, repara,
façamos um balanço: de nós
restou não mais que a folha livre
de depois do livro, retrato em
branco e preto
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