terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Gilberto Dimenstei

Aquele Gilberto Dimenstein antes do câncer morreu. 
Nasceu outro. 
mas desejo para todos a profundidade 
que você ganha ao se deparar com o limite da vida. 
Não queria ter ido embora sem essa experiência.
Grande parte da minha vida foi marcada 
pelo culto a bobagens: ganhar prêmio, 
assinar matéria na capa, 
o tempo todo pensando no próximo furo. 
É como se estivesse passando 
por um lugar lindo num trem em alta velocidade, 
vendo tudo borrado. 
Quando você tem um câncer 
(ainda mais como o meu, de metástase e de pâncreas, 
um tipo muito agressivo), 
não há alternativa. 
Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.
E aí começam a aparecer coisas incríveis. 
Gosto de andar de bicicleta, 
e comecei a sentir o vento no rosto, 
como se estivesse sendo beijado. 
Você vê seu neto deitado com você 
[Dimenstein tem um neto de dois anos 
e espera o segundo para daqui a seis meses]. 
Acorda com os bem-te-vis e escuta os bem-te-vis.”.

Inspiradora matéria na Folha de São Paulo de hoje.