sábado, 9 de fevereiro de 2013

Belo Belo, Manuel Bandeira

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"Belo Belo
Belo belo belo,
tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações
extintas há milênios.
E o risco brevíssimo 
- que foi ? passou -
de tantas estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,
e eu guardo as mais puras 
lágrimas da aurora.

O dia vem, 
e dia adentro
continuo a possuir 
o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,
não quero ser amado.
Não quero combater.
Não quero ser soldado.

- Quero a delícia de sentir as coisas
    mais simples."