Nara Leão faz 70 anos hoje.
Quase me imaginei comprando um bolo prá comemorar.
Mas ela não morreu?
Perguntarão alguns desavisados.
Um político mineiro visita as suas "bases".
Antigamente se chamava currais eleitorais,
agora, na Novilíngua do PT,
se chama "consulta às bases".
Encontra um rapaz e pergunta:
como está o seu pai?
E o rapaz: ele morreu há 3 anos!!!
O político, sem perder a pose:
morreu prá você, filho ingrato,
prá mim ele continua vivo!!!
Pois é, para mim, Nara Leão não morreu.
Aquelas 2 caixinhas preciosas com os principais discos dela
e um monte de cds avulsos me lembram isto.
Na década de 60, quando queríamos peitar o mundo, ouvíamos Vandré, ou Vitor Jara ou Violeta Parra.
Quando queríamos peitar a hipocrisia dos costumes sociais, Elis Regina,etc.
Quando queríamos peitar a nós mesmos, só a voz doce de Nara a nos acalentar e refazer a promessa de que a vida pode ser mais Inteira.
Todo aprendiz de violão quer cantar como João Gilberto e Nara Leão, intimistas.
Eu queria cantar como os 2, juntos.
Artistas não deveriam ganhar dinheiro.
Talvez uma bolsa-família para alimentar a prole.
Eles já ganham a imortalidade.
Não estou falando da imortalidade física.
Esta não é mais do que ridícula.
Imortalizar uma carne que apodrece com tanto mau cheiro quanto à carne humana, não dá certo.
Imortalizar no que importa, no sentimento, na doçura, na emoção.
Nara Leão é a hipérbole de tudo isto.
Obrigado Nara por ter existido.
O destino foi cruel em te dar um tumor no cérebro aos 37 anos, que te mataria 10 anos depois.
Tua meiguice, tua bela e afinada voz estarão conosco até o fim dos tempos.
Vou comprar o bolo prá comemorar os teus 70 anos, hoje.
