quarta-feira, 6 de abril de 2016

Do Povo buscamos a Força, Agostinho Neto







Não basta que seja pura e justa 
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós.

Dos que vieram 
e conosco se aliaram
muitos traziam sombras no olhar
intenções estranhas.

Para alguns deles a razão da luta
era só o ódio: um ódio antigo
centrado e surdo
como uma lança.

Para alguns outros era uma bolsa
bolsa vazia (queriam enchê-la)
queriam enchê-la com coisas sujas
inconfessáveis.

Outros viemos.
Lutar para nós é ver aquilo 
que o Povo quer
realizado.
É ter a terra onde nascemos.
É sermos livres pra trabalhar.
É ter pra nós o que criamos
Lutar pra nós é um destino - 
é uma ponte entre a descrença
e a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos 
Todos concordam - vamos lutar.

Lutar pra que?
Pra dar vazão ao ódio antigo?
ou para ganharmos a liberdade
e ter pra nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos.
Quem há-de ser o timoneiro?
Ah as tramas que eles teceram!
Ah as lutas que travamos!

Mantivemo-nos firmes: no povo
buscáramos a força
e a razão

Inexoravelmente
como uma onda que ninguém trava
vencemos.
O Povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:
Não basta que seja pura e justa 
a nossa causa
É necessário que a pureza e a justiça 
existam dentro de nós.

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