domingo, 9 de dezembro de 2012

Mendigo salva a vida de Helena Brennand : um Conto de Natal de 2012 !!!






Paulo Henrique de Brito, 19,
o herói deste Natal.




Começando com minhas desculpas pela manchete de tablóide policial. 
Bem mais explícita do que "Carro cai no Canal de Setúbal e morador de rua resgata motorista" do Diário de Pernambuco.
Ou, a elegante, mas ainda mais evasiva, 
"Morador de rua salva vida" 
do Jornal do Commercio.

É um dos males do blog :
Você tem que ser escandaloso prá chamar a atenção no Google.
Minha pequena matéria "Ministro Joaquim Barbosa x Lewandoski" só reproduzia um comentário do blog de Cláudio Humberto, mas o título chamou muitos leitores.
Por isso tornou-se a mais acessada 
da história do blog.
O "x" entre os nomes dos 2 grandes ministros talvez insinuasse um batalha inexistente, o que fez tantos se dirigirem ao link.

Voltando ao assunto da manchete :

Na madrugada de ontem (4.40 horas ! que o JC achou melhor não detalhar) o carro de Helena Oliveira Brennand, 33 anos no JC, 28 anos no DP, (excesso de velocidade ? fechada por outro carro? insinuações do JC) caiu no Canal de Setúbal, em Boa Viagem, Recife.
O canal estava cheio e a motorista ficou presa enquanto o carro afundava.

Muitos populares olhando, mas só Paulo Henrique, 19 anos, que antigamente se chamava mendigo e hoje se chama morador de rua (e no futuro será chamado de "desprovido de soluções arquitetônicas para o dia a dia") pulou na água, com sua gilete, cortou o cinto de segurança que prendia Helena e a trouxe para fora do canal.

Paulo não mediu as tintas para si próprio.
Disse ao repórter que era pescador em Goiana, litoral norte, 
mas se viciou em drogas e veio ser morador de rua em Recife.
Estava, na madrugada, à procura de algo para comer quando viu o carro cair no canal.

Seu maior sonho ?
Conseguir 9.40 reais para pagar a passagem de ônibus de volta à sua cidade natal.
Você leu direito ?
NOVE REAIS E QUARENTA CENTAVOS !!!

Poderia estar em qualquer 
filme de Frank Capra.

Os 2 extremos da sociedade brasileira,
que tanto tentam viver 
em mundos particulares,
intocáveis, 
se encontram num acidente de trânsito.

Helena é filha do pintor Francisco Brennand.
Os Brennand são a Família Real de Pernambuco,
com todo respeito.

Têm dinheiro (muito dinheiro!), cultura,
arte, prestígio, bom gosto,
beleza e mecenato,
e não tem dia que não tenha foto de 
algum nas colunas sociais.

Não tem porque não dizê-lo :
Nós todos morremos de inveja dos Brennand.
O pintor-escultor é extraordinário
 e foi matéria aqui
do blog 4 dias atrás, 
reproduzindo uma entrevista cheia de
inteligência e sensibilidade.

Mas, até agora, só consegui comprar o livro sobre o pintor.
Custa 150 reais.
Os 800 reais que alguém pede no Mercado Livre por um azulejo de 10 x 10 cms me apavora.
Adio o meu sonho de ter algum azulejo do artista grandioso.

Parabéns para o gesto humano do mendigo,
que arriscou a própria vida,
se jogando num canal imundo,
enquanto dezenas de pessoas
estavam só olhando Helena se afogar.

Já temos um Conto de Natal de 2012.

P.S. :

Como conheço bem o Brasil,  
não me admiraria se a Justiça 
abrisse um inquérito… 
"para saber porque Paulo Henrique 
estava com uma gilete"!!!!








O carro de Helena sendo retirado do canal.

Fotos do DP.
Dados escritos ou intuídos das 
edições em papel do JC e DP deste sábado.

Alguma imprecisão ?
A finalidade da matéria não foi dar a notícia, que já estava nos jornais, mas analisar um aspecto.
Por isto não coloquei foto de Helena.
Ela não é a notícia aqui.
É só o motivo da reflexão.

P.S.:

No dia 4 de fevereiro de 2013, repercutindo um belo artigo no caderno Aurora do Diário de Pernambuco, sobre os 2 meses de Paulo Henrique, depois do acidente, coloquei esta pequena nota aqui no blog :

Jornalismo soberbo 
e de melhor qualidade 
a chamada de capa do
 DP de hoje "Metade herói, metade ninguém" 
e a reportagem de André Duarte
 sobre Paulo Henrique Brito, 
19 anos, viciado em crack ,
 mendigo, 
que mergulhou na podridão do 
Canal de Setúbal em Recife 
e salvou Helena Brennand 
de morrer afogada, 2 meses atrás. 

Como algumas pessoas 
estão tentando ajudar 
e como Helena, imitando os leprosos 
que Jesus curou, 
ainda não voltou para agradecer.