sábado, 9 de março de 2013

A Luz do Primeiro Engano, Fernando da Mota Lima


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Para Brenno.

A primeira luz do ano
Sopra no mar os enganos
Que entanto queremos ser.
Enganos de metro e amor
De vida além do esplendor
Que se resolve em prazer.

A luz primeira do ano
Anúncio de tantos planos
Ermos de régua e compasso
É vela de roto pano
Traindo no ardor do engano
Apenas tédio e fracasso.

Mas prosseguimos, erramos
No dia retendo o engano
Que as ondas lavam na areia.
E assim seguimos sonhando
A vida se esvaziando
Nas trevas da maré cheia.

A luz do primeiro engano
Refeita ano após ano
Reflete a sombra do cético
Portando no coração
A mais humana invenção
Tombada no último século.

Mas ninguém ouve ou quer ver
O moribundo a gemer
Os estertores da dor.
Ébrios de festa e engano
Vão este e os seguintes anos
Sem consciência enterrando
O ser que vive no engano
De ser o que foi amor.

Fernando da Mota Lima.
Recife, 1 de janeiro de 2005.