quinta-feira, 30 de junho de 2011

Morte e Vida Severina (DVD) : arrasou!!!




Mais de 30 anos depois da primeira exibição, e com raras reprises, a Globo Marcas lança em DVD o que, para mim, foi o melhor programa já exibido na TV aberta brasileira, EM QUALQUER TEMPO:
MORTE E VIDA SEVERINA (MEVS).

Na década de 60 já tinha sido uma coqueluche nacional este texto poético de João Cabral de Melo Neto, musicado por Chico Buarque (numa época que ele não chegara na decadência atual de rimar "sacrifício"com "amar uma mulher sem orifício", já eleito por unanimidade como o pior verso do cancioneiro popular brasileiro.)

Toda escola de bairro tinha o seu grupo teatral e cada um encenava MEVS.
Afora a beleza pungente do texto, vivo exatamente na região onde se passa a ação do retirante, que para escapar da fome, começa sua longa caminhada de miséria para chegar em Recife.

O LP VINIL com a montagem do TUCA de São Paulo ouvido centenas de vezes, me fez decorar o texto inteiro. Era uma época em que meus neurônios funcionavam melhor do que hoje.

Resumindo: 1 hora e meia de grande beleza cênica. Walter Avancini numa direção perfeita. José Dumont, juvenil, mostrando o extraordinário ator que é. Tudo é perfeito no filme, ou quase.
Elba Ramalho e Tânia Alves excelentes.

1 - Tem legendas em inglês, francês e espanhol, mas não em português. Facilitaria para certas falas regionais, que não serão entendidas por outros sem as letras.
2 - Custa apenas 20 reais nos combos da internet. E os camelôs, mostrando uma inusitada inteligência comercial, lotam as ruas, com cópias a 2 reais. É uma distribuição da cultura. Um tipo de "bolsa cultura"não legalizada.
3 - Nunca entendi porque o poeta dizia não gostar desta sua obra. Acho o texto tocante, e concordo com pequenas edições que foram feitas pelos grupos teatrais, tirando algumas passagens redundantes. A minha geração decidiu militância política e social por obras primas como esta.

Nota de 1 a 10 ?
MILLLLL.
Já vi centenas de vezes,
desde o tempo das fitas de VHS.
Continuarei revendo até morrer.
Muitas vezes acabo com os olhos cheios de lágrimas.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Irmão Roger Schultz : a violência que está dentro de cada um.




"- Todo ser humano, em um certo momento, tem que perguntar a si próprio:
Por que existe em mim impulsos irracionais que eu não reconheço e, às vezes, não posso controlar
- Por que esta violência interior ?
- Oh!, tem um grande valor, esta violência interior, quando ela mantém um caridade viva pelos outros.
- Em outras palavras, chegando no ponto de esquecermos de nós mesmos pelos outros.
- Cristo nos pede para enraizarmos Nele para viver pelos outros.
- Não é uma matéria de educação, mas de conversão do coração.
E tem sido sempre desta forma.
- Se você ler os textos de Santo Agostinho, escritos nos anos 400; se você ler muitos textos que remetem aos primórdios dos tempos, você conclui que não há nada de novo nesta violência interior que pode degenerar em ódio, em detestação... em ódio.
E o ódio carrega tudo com ele : guerras, assassinatos e aquela arrogância interior : "Nós estamos sempre certos. Nós somos os únicos que vemos as coisas claramente. "


terça-feira, 28 de junho de 2011

Ladjane Bandeira e a Solidão.






"É feliz quem tem a sorte de viver só.

Quando se tem uma vida inteira cognoscente,
plena, criativa, povoada de idéias,
não se sente necessidade de presença física
e sim do pensamento das pessoas.

Esse eu encontro nos livros, na música, na filosofia."

Ladjane Bandeira,
poetisa e intelectual recifense.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Fernando de Noronha : o lado negro.




O JC deste domingo teve seu glorioso momento "Revista do Domingo, do New York Times".
Num caderno especial de 20 páginas, com texto de Ciara Carvalho e fotos de Ricardo B. Labastier, e com o título de FERNANDO DE NORONHA: O PARAÍSO ÀS AVESSAS, mostrou o lado negro desta ilha pernambucana que virou paraíso de socialites endinheirados.

É administrada na forma de privê político particular, mas com a conta sendo paga pelo dinheiro público. Parecido com as federações de futebol, que vivem proclamando independência, desde que isto não implique em deixar de mamar muito no cofre da viúva.

Acompanhou mais um editorial estonteante de Ivanildo Sampaio, que está nos seus melhores momentos de escrita.

Imagino como deve ser difícil escancarar um assunto deste em jornal.

Recife é uma capitania hereditária onde 10 pessoas mandam em 99 % da riqueza.
Até prá dizer que vai chover, estas 10 pessoas têm que ponderar bem.
Qualquer desgosto causado às outras 9, significa inimizade eterna e boicote de todos os negócios.

Eu olhei pela janela de casa...
prá ver se estava na Broadway.
Foi o mesmo gosto de ler o apetitoso NY Times em sua edição de domingo.

A reportagem já está guardada em meus arquivos.
O link está abaixo mas é muito melhor ler no papel.

domingo, 26 de junho de 2011

Instituto Ricardo Brennand





O Instituto Ricardo Brennand, no bairro da Várzea, em Recife, é o lugar que merece o selo de IMPERDÍVEL.
Um dos melhores museus do Brasil.

Prá quem ainda não foi ou quer rever, tem agora um site impecável com tour por todo o acervo. Não esqueça de clicar em vários sinais de cima da tela, com salas especiais, texto com explicação de algumas obras e coleções.

Em resumo:
o site também é imperdível, com a vantagem de não precisar sair de casa e atravessar o caos de trânsito da Avenida Caxangá, nem ser assaltado em algumas das centenas de lombadas da Várzea, antes de chegar ao museu.

Boa viagem cultural !!!
Link abaixo:



Foto da escultura LUTADORES, do acervo do IRB, de Ricardo de Almeida Silva, do site Photographer Brasil.
Foto do IRB copiada do blog de João Alberto.

sábado, 25 de junho de 2011

Piada de sábado





Manuel e Joaquim, de nacionalidades indeterminadas (ah ah ah), trabalham para o Departamento de Urbanismo.
Um escava o buraco.
O outro enche o buraco.

Um morador, divertido com a situação, mas não entendendo porque eles
faziam isto, foi perguntar:
- Estou impressionado com o esforço que os dois põem no trabalho, mas não
compreendo porque é que um escava o buraco e, mal acaba, o parceiro vem
atrás e volta a enchê-lo.

O cavador, limpando a testa, suspira:
- Bem, pode parecer estranho.
Normalmente, somos três homens na equipe;
eu cavo, o outro planta a árvore e o outro cobre o buraco.
Mas hoje o rapaz que planta a árvore telefonou dizendo que está doente.


P.S.: A ilustração foi copiada do blog Idle Hands Illustration.
Abaixo, Os cavadores, de Van Gogh.



sexta-feira, 24 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Asa Branca por David Byrne






quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cecília Meireles


EPIGRAMA No 3.


Mutilados jardins e primaveras abolidas
abriram seus miraculosos ramos
no cristal em que pousa a minha mão.

(Prodigioso perfume!)

Recompuseram-se tempos, formas, cores, vidas....

Ah! mundo vegetal, nós, humanos, choramos
só da incerteza da ressurreição.


Ilustração:
óleo de Paul Klee,
Memória de um jardim, 1924

terça-feira, 21 de junho de 2011

Shakesbeer








segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sigilo eterno!!! A luz do sol é o maior desinfetante.




O Brasil inteiro morre de curiosidade de saber porque figuras imaculadas como Sarney, Collor e Temer estão tão empenhadas em aprovar a lei do sigilo eterno dos documentos oficiais brasileiros.

O que teriam eles a esconder de tão grave ?

É uma discussão bizantina.
O Brasil sempre achou melhor olhar de lado para a História, mesmo correndo o risco de repetí-la como farsa.

Todos os ditadores militares do continente foram julgados e condenados.
No Brasil ? Nada aconteceu.
Os militares criminosos (uma pequena minoria no meio de um exército valoroso) foram presos e condenados na Argentina, Chile e todos os outros.
No Brasil ? Nada aconteceu.
Os esquerdistas que deduraram os amigos -e agora ocupam altos cargos públicos- nunca foram dados a conhecer.

Encobrimos as histórias para não expor as nossas fraquezas.

A Guerra do Paraguai terminou há mais de 140 anos e os documentos oficiais brasileiros ainda não foram abertos nem para historiadores.
Resultado ?
São 140 anos de lendas. A maior delas diz que a intenção brasileira era exterminar mais do que matou dos homens paraguaios (mais de metade da população masculina) e, ao contrário do que mostram as pinturas heróicas, uma significativa parte das mortes foram no facão, de homens famintos, desarmados e rendidos.

É bem melhor seguir a notável frase do juiz americano Louis Brandels :

" A LUZ DO SOL É O MELHOR DESINFETANTE."

domingo, 19 de junho de 2011

7 coisas que Neymar poderia aprender com Messi






1. Não caia tanto.
2. Se cair, levante.
3. Saiba usar seu talento.
4. Jogue na equipe certa.
5. Não perca seu foco
6. Fuja das encrencas.
7. Seja o xodó do time.


leia a matéria completa
na Veja desta semana.

sábado, 18 de junho de 2011

O vento, Orlando Caetano





O vento
arrasta-me
o pensamento
e em cada rajada
invento
tocas
recantos
abrigos.

Andam perigos
no ar
já assobiam
sirenes
nuvens de pó
rodopiam.
In 'Além do Azul', 1994.
foto de Yoshue, no flickr.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Birgit Nilsson



Se os anjos cantassem, a voz (pelo menos na metade última do século XX) seria a da soprano sueca BIRGIT NILSSON.

Aqui num concerto, na parte final de Tristão e Isolda, de Wagner.

Junto com Kirsten Flagstad foram as 2 grandes Isoldas do século XX.

Ainda não apareceu a Isolda perfeita do século XXI.
É um papel dificílimo, por conta dos imensos monólogos.
Muitas sopranos já acabaram a voz de vez, nesta tentativa.


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ginasta e a fé mais profunda.





"Um ginasta tem que ser
uma pessoa da fé mais profunda.

Ele tem que acreditar que
haverá uma mão para segurá-lo
naquele exato segundo disponível,
no cálculo do seu salto
no trampolim."


quarta-feira, 15 de junho de 2011

A diferença entre os políticos do Brasil e de Portugal.





Em Lisboa:

Ministro brasileiro em visita.
Concluída a parte formal, o ministro português convida o brasileiro para jantar em sua residência.
O brasileiro espanta-se com a casa, em bairro chiquérrimo, piscinas, jardins e dezenas de carrões.
- Com um ordenado que não chega a cinco mil euros, como é que você consegue tudo isto? Já eras rico?
O ministro português dá um sorriso.
Chama o brasileiro para uma janela.
- Estás vendo aquela rodovia?
- Sim.
- O governo pagou 100 milhões, mas, na verdade, só custou 90..., entendeu?
- Sim.


Em Brasília:

O brasileiro retribui a cortesia e convida o português para jantar em sua residência: um palacete de 3000 m2, varandas para o poente, jardins orientais, piscinas em cascata, campo de tênis, campo de futebol, heliporto e 55 empregados.
O português não acredita no que vê e gagueja:
- Como é possível um homem público ter uma mansão assim?
O brasileiro leva-o até a janela:
- Estás vendo aquela rodovia?
- Não!!!!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Nós, os órfãos da OPRAH.





Depois de 25 anos acabou o programa diário de Oprah Winfrey.
Foram quase 5.000 programas.

Os intelectuais odiavam o talk show.
Pedro Andrade, que nem é intelectual, disse no Manhattan Connection um velho chavão, que Oprah glamurizava a miséria alheia.
É meia verdade.

Mas não podiam negar que ele estava a anos luz de todos os outros.
Não apenas na rica e perfeita produção, mas também no conteúdo.

Ninguém via Oprah totalmente desconhecendo o assunto do entrevistado, como frequentemente acontece com Jô Soares e outros.
Enorme mérito de levar para milhões de americanos assuntos que não constam no dia a dia de uma população quase que só preocupada em consumir o máximo ... e não refletir sobre nada.
Abuso infantil, transexualismo, falta de amor próprio, obesidade e tantos outros temas que ela repetiu à exaustão, e por boas razões.

Foi uma pena que o programa não pegasse no Brasil.
Teria tido uma importância cultural e social muito mais importante do que todas as novelas idiotas que os brasileiros engoliram nos últimos anos, e bobagens como "quem matou Odete Roitman?"ou será vai ter o primeiro beijo gay.
Mas nenhuma televisão brasileira, fora a TV Cultura, tem interesse em elevar o nível mental dos seus expectadores. Todas preferem se eternizar com novelas de época e banalidades semelhantes.

O último show foi como uma Aula Magna em que ela só falou sobre os seus propósitos de vida e os do programa.
Fio belo.
Obrigado Oprah !!!

P.S.: Para matar a saudade, tem uma caixa de DVDs de quando o programa fez 20 anos. Custa 150 reais no Mercado Livre, mas 22 dólares na amazon.com.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Zona Verde, Iraque e a Mentira do Século.




Só agora que saiu em vídeo pude ver Zona Verde.
Dirigido por Paul Greengrass, que abalou em alguns da Trilogia Bourne.

O assunto é palpitante:
um oficial americano do setor de inteligência, no Iraque, tenta saber a verdade por trás da maior mentira da história do século XXI, que o Sadan Hussein tinha armas de destruição em massa.
Não se sabe porque esta súbita tomada de consciência dele.

Logo vai entender a imensa maracutaia inventada pela administração George W.Bush, com certeza a pior presidência americana dos últimos 100 anos. Com enorme desprezo pelo povo e pela inteligência do americano. Unicamente voltada para satisfazer os enormes negócios que cada um dos participantes representava.

O filme merece ser visto, mas deixa muito a desejar.
1. a camera-enxaqueca que pode ter dado certo nos Bournes, aqui é exagerada ao extremo, e causa tédio, em vez de movimentação.
2. o roteiro é pífio para uma denúncia política.

O herói bonzinho não consegue dizer a que veio.
Num dos poucos momentos de tensão, quando ele se encontra entra a verdade e outro oficial americano que quer destruir as evidências, alguém soluciona a decisão dele, se mataria outro oficial americano em nome da verdade.

Matt Damon segue um bom ator... que não convence.
Nunca mais teve o charme e o encanto do Soldado Ryan do filme de Spielberg.


domingo, 12 de junho de 2011

Não posso adiar o amor, Antonio Ramos Rosa






Não posso adiar o amor para outro século
Não posso
Ainda que o grito sufoque na garganta
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
E montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio

Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

De "Viagem através duma Nebulosa" (1960)

sábado, 11 de junho de 2011

Theo Jansen



escultor cinético, holandês.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Andrea Bocelli canta o Pai Nosso.



quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tarefa, Geir Campos







Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Diarmuid Martin, um arcebispo x pedofilia na Igreja da Irlanda.





Com o curioso título de "Um arcebispo queima enquanto Roma toca", o New York Times de ontem descortinou uma perturbadora história, num artigo da repórter Maureen Dowd.

Depois de passar 27 anos no Vaticano, como burocrata, o bispo Martin foi mandado de volta a Dublin para tentar resolver a enorme crise de acobertamento de pedofilia que se instalara no país.

4 arcebispos de Dublin já tinham sido chamuscados com fortes suspeitas de que, em vez de punir religiosos irresponsáveis, a igreja irlandesa preferia não enfrentar, pensando "vamos fechar os olhos que o Espírito Santo virá resolver o problema."

Iniciou uma liturgia semanal na catedral de Dublin, chamada "Penitência e Perdão" aos que foram vítimas dos abusos.
Num país de profunda tradição católica, agora só 1 de cada 5 cidadãos vai à missa aos domingos.

Mas a sua batalha não terminou.
O Vaticano ficou incomodado com centenas de denúncias e decidiu apoiar o clero irlandês e sua negação dos fatos. Quando o governo do país lançou um calhamaço de 700 páginas em 2009 com um resumo das denúncias, 2 bispos renunciaram, mas o Papa Bento XV não aceitou as renúncias.
O Cardeal Bernard Law é agora o bastião de Roma na Irlanda, prestigiado na sua posição de negar os acobertamentos.

Dom Martin cita um exemplo de como é a postura de parte do clero irlandês: Um padre já conhecido por outros problemas com adolescentes, fez uma piscina nos jardins de sua própria casa. Para a piscina só eram convidados jovens de uma certa idade e com determinadas características físicas. A paróquia tinha outros 8 padres atuantes. Nenhum nunca achou que havia qualquer coisa de estranho naquela situação.

EU: Nem preciso repetir que esta é uma história particular, dentro de uma gigantesca organização chamada Igreja Católica (IC). No meu entender o trabalho da IC não tem comparativo no mundo ocidental, em matéria de fé, de solidariedade, de luta pelos mais pobres. Não se deve julgar uma instituição de bilhões de fiéis pelos seus erros restritos. Se custou séculos a reconhecer que a Terra girava em torno do Sol. Se queimou pessoas na Inquisição. Se custou a aceitar que os negros tinham alma. Isto tudo deve ser visto com pesar, mas com respeito, e COM SENTIDO HISTÓRICO. É fácil julgar hoje um fato de 200 anos atrás. Mas é errôneo não ver o seu contexto. A Igreja Católica sempre foi -e será sempre- digna da minha humilde admiração. Ninguém pode negar as sementes de transformação humana e sociais que a IC SEMPRE patrocinou.


terça-feira, 7 de junho de 2011

Livro, uma revolução tecnológica.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

Velhos pinheiros





Eh! velhos pinheiros!
Cá estou outra vez
a falar com vocês
numa língua estranha
que não é
português
nem espanhol...

Mas esta alegria do princípio do mundo
de andar com mãos roubadas a um vagabundo
a atirar pedras aos pássaros e ao sol.

José Gomes Ferreira

domingo, 5 de junho de 2011

AIDS, 30 anos depois. Uma memória.


30 anos hoje que eu estava em Nova Iorque.
Fiquei quase 2 meses no Bronx, de férias.
Numa época em que se entrava num avião como um rei e não como um inconveniente bagulho, feito atualmente.

O New York Times, que chegava de madrugada na frente da porta, trazia uma curiosa matéria médica: 5 jovens homossexuais de Los Angeles, de 29 a 36 anos, apresentavam uma Pneumonia por Pneumocystis Carinii.
O inusitado é que este tipo de problema só era conhecido em pessoas idosas, pacientes de UTI e transplantados que usavam doses enormes de imunosupressores. Ou seja, era incongruente que jovens no que se poderia chamar de maior vigor de saúde, apresentassem isto.
2 dos jovens gays já tinham morrido.
A matéria era a reprodução de uma nota do periódico médico MMWR.

Um mês depois o CDC (Centro de Controle de Doenças) de Atlanta, EUA, apresentava 5 casos de, novamente, jovens homossexuais com Sarcoma de Kaposi, uma doença de pele, com grandes manchas arroxeadas, o que também só era conhecido em pessoas com imunidade debilitada, especialmente idosos de certas comunidades judaicas.

De lá prá cá foram 30 anos de pesadelo para o mundo.
30 milhões de mortos.
34 milhões de sobreviventes, atualmente.
1 ano depois, o que se chamou no início de Peste Gay ou Câncer Gay, foi descoberta como a AIDS, tal qual se conhece hoje.
Muito progresso foi feito em termos de diagnóstico, de tratamento e de prevenção.
AZT e, depois, os inibidores da protease, deram aos infectados dezenas de anos de vida adicionais. Mas eles são caros e milhões de pacientes, especialmente na África, não têm acesso a eles.
Algumas países do sul do continente africano têm agora uma incidência de 30%. Ou seja, 1 de cada 3 pessoas do país tem o vírus.

A descrença custou caro a milhões.
Um dos primeiros casos que vi pessoalmente em Recife, foi de um inteligente rapazinho do interior, pobre, estudante de russo. Dizia a todo mundo que AIDS não existia. Era uma propaganda da Johnson para vender preservativos.
2 anos depois ele morria de AIDS ou talvez de tristeza.
Numa visita à sua velha mãe numa pequena cidade da zona da mata, quando ele entrou em casa todos os outros parentes saíram pela porta da cozinha.
Teve uma enorme diarréia e morreu poucos dias depois.

1. A vacina, prometida desde os anos 80, até hoje não aconteceu.
2. Testes rápidos deveriam ser dados em farmácias, como teste de gravidez. Um dos grandes problemas atuais é que em torno de 60 % dos positivos desconhecem isto. São estes os maiores disseminadores da doença. No último mês uma pesquisa bem conduzida mostrou que quando em um casal heterosexual o parceiro infectado começa um tratamento medicamentoso, a contaminação do outro diminui 96%.

Solidários com a tristeza de milhões de órfãos (sobretudo africanos), gays e todos os outros.
Uma geração de artistas de cidades como Nova Iorque e São Francisco foi devastada.
Que os próximos anos possam trazer a todos melhor tratamento, mais conforto e mais juízo.


sábado, 4 de junho de 2011

Dr. Jack Kevorkian, 83, coragem... e loucura.




Dr. Jack Kevorkian, um médico patologista, de Michigan, EUA, morreu ontem, aos 83. Músico de Jazz, senso artístico, médico mediano, pais eram imigrantes armênios.

Ficou conhecido por sua obsessão pessoal em enfrentar a lei, no caso da ajuda médica a pessoas que desejem apressar a própria morte, por conta de doenças terminais.


Com grande coragem... e loucura, testou durante anos até onde a lei e a sociedade aguentariam sua pressão. Terminou passando 8 anos da velhice preso, depois que apareceu, de propósito, aplicando sua máquina da morte (Mercitron) em um paciente que não tinha mais força para fazê-lo. Oficialmente ajudou mais de 130 pessoas a passarem desta vida para a outra.

Odiado pela indústria médica americana, que tem entre os seus maiores pesadelos, a idéia de que pacientes terminais possam decidir quando morrer. 25% dos bilhões de gastos médicos nos EUA são feitos nos últimos 30 dias de vida das pessoas. Ou seja, milhões de pacientes terminais são deixados em UTIS com milhares de dólares de diária, medicamentos caros e inúteis e uma infinidade de tubos. "Vivem" mais 30 dias e dão lucros de bilhões à indústria médica.

Ano passado HBO exibiu sua produção "Você não conhece Jack", com Al Pacino interpretando Kevorkian. Quando recebeu o Emmy de Melhor Ator, disse que "estava gratificado por ter interpretado alguém tão brilhante, interessante e único". Kevorkian estava na platéia, com um largo sorriso.

Apesar de médico competente, viveu a vida inteira como um asceta, com recursos e confortos de pobreza. Comprava roupas nas lojas do Exército da Salvação, por serem baratas. Nunca casou. Tocava piano e era apaixonado pela música de Bach.

1. "Nunca entendi porque a medicina tem tanto interesse em ajudar as pessoas a entrarem na vida, e nada faz para ajudá-las a sair da vida." Foi um frase muito repetida dele.

2. O enfrentamento da Lei é perigoso e desgastante e só grandes seres humanos o fazem, por nobres causas. A Lei foi feita para o Homem e não o contrário. Leis universais, eticamente definidas, não devem ser desafiadas, claro. Ninguém pode decidir que matar o vizinho, depois de um bate boca, possa tornar-se justificável. Mas a Lei não é intocada e absoluta como muitos querem fazer crer. Num exemplo recente, extremo e cristalino, o apartheid sul africano era totalmente esboçado dentro da lei. Nada nele feria a Constituição do país, mas era desumano. Foi combatido...e mudado.

"Quando sua consciência disser que a lei é imoral, não siga a lei", outra frase de Kevorkian.


Esta foi uma das máquinas da morte criadas por Dr. Kevorkian. A maior particularidade dela é que o próprio paciente acionava o seu início, impedindo a lei de acusar outra pessoa de crime. O paciente abria o soro, caía o anestésico tiopental que o levava à inconsciência, depois um tranquilizante e, o último, uma dose elevada de Cloreto de Potássio, que parava o coração. Em minutos ele passava para o Além.

EU : Sem querer estender a matéria demais, penso que compete ao médico e ao paciente e seus familiares decidirem o que é melhor para ele, em todos os sentidos. Países escandinavos, Holanda, etc, já colocaram isto na prática há décadas. Existe um protocolo para este tipo de situação, como existe um protocolo para determinar se uma pessoa teve morte cerebral e pode doar os seus órgãos.
Se alguém entende que um paciente com um câncer de boca, com 15 dias a mais de uma vida infernal, com uma dor e um desconforto que não serão aliviados por nada, tem o direito de abdicar dos seus 15 dias de sofrimento, é uma matéria de compaixão e humanidade.
Quando o Papa João Paulo II decidiu que não havia mais motivo para estar internado num hospital de Roma e o melhor a fazer era voltar para seu quarto no Vaticano e esperar a morte, foi uma atitude sensata e de aceitação. Ninguém criticou... e nem deveria.

Esta máquina e esta situação, EVIDENTEMENTE, não é feita para mocinhas que brigaram com seus namorados e decidem morrer, como pessoas cruéis tentam disseminar.
Ela se refere a uma situação terminal, dolorosa, cuidadosamente equacionada. É só desta maneira que uma decisão correta pode surgir dali.