sábado, 4 de junho de 2011

Dr. Jack Kevorkian, 83, coragem... e loucura.




Dr. Jack Kevorkian, um médico patologista, de Michigan, EUA, morreu ontem, aos 83. Músico de Jazz, senso artístico, médico mediano, pais eram imigrantes armênios.

Ficou conhecido por sua obsessão pessoal em enfrentar a lei, no caso da ajuda médica a pessoas que desejem apressar a própria morte, por conta de doenças terminais.


Com grande coragem... e loucura, testou durante anos até onde a lei e a sociedade aguentariam sua pressão. Terminou passando 8 anos da velhice preso, depois que apareceu, de propósito, aplicando sua máquina da morte (Mercitron) em um paciente que não tinha mais força para fazê-lo. Oficialmente ajudou mais de 130 pessoas a passarem desta vida para a outra.

Odiado pela indústria médica americana, que tem entre os seus maiores pesadelos, a idéia de que pacientes terminais possam decidir quando morrer. 25% dos bilhões de gastos médicos nos EUA são feitos nos últimos 30 dias de vida das pessoas. Ou seja, milhões de pacientes terminais são deixados em UTIS com milhares de dólares de diária, medicamentos caros e inúteis e uma infinidade de tubos. "Vivem" mais 30 dias e dão lucros de bilhões à indústria médica.

Ano passado HBO exibiu sua produção "Você não conhece Jack", com Al Pacino interpretando Kevorkian. Quando recebeu o Emmy de Melhor Ator, disse que "estava gratificado por ter interpretado alguém tão brilhante, interessante e único". Kevorkian estava na platéia, com um largo sorriso.

Apesar de médico competente, viveu a vida inteira como um asceta, com recursos e confortos de pobreza. Comprava roupas nas lojas do Exército da Salvação, por serem baratas. Nunca casou. Tocava piano e era apaixonado pela música de Bach.

1. "Nunca entendi porque a medicina tem tanto interesse em ajudar as pessoas a entrarem na vida, e nada faz para ajudá-las a sair da vida." Foi um frase muito repetida dele.

2. O enfrentamento da Lei é perigoso e desgastante e só grandes seres humanos o fazem, por nobres causas. A Lei foi feita para o Homem e não o contrário. Leis universais, eticamente definidas, não devem ser desafiadas, claro. Ninguém pode decidir que matar o vizinho, depois de um bate boca, possa tornar-se justificável. Mas a Lei não é intocada e absoluta como muitos querem fazer crer. Num exemplo recente, extremo e cristalino, o apartheid sul africano era totalmente esboçado dentro da lei. Nada nele feria a Constituição do país, mas era desumano. Foi combatido...e mudado.

"Quando sua consciência disser que a lei é imoral, não siga a lei", outra frase de Kevorkian.


Esta foi uma das máquinas da morte criadas por Dr. Kevorkian. A maior particularidade dela é que o próprio paciente acionava o seu início, impedindo a lei de acusar outra pessoa de crime. O paciente abria o soro, caía o anestésico tiopental que o levava à inconsciência, depois um tranquilizante e, o último, uma dose elevada de Cloreto de Potássio, que parava o coração. Em minutos ele passava para o Além.

EU : Sem querer estender a matéria demais, penso que compete ao médico e ao paciente e seus familiares decidirem o que é melhor para ele, em todos os sentidos. Países escandinavos, Holanda, etc, já colocaram isto na prática há décadas. Existe um protocolo para este tipo de situação, como existe um protocolo para determinar se uma pessoa teve morte cerebral e pode doar os seus órgãos.
Se alguém entende que um paciente com um câncer de boca, com 15 dias a mais de uma vida infernal, com uma dor e um desconforto que não serão aliviados por nada, tem o direito de abdicar dos seus 15 dias de sofrimento, é uma matéria de compaixão e humanidade.
Quando o Papa João Paulo II decidiu que não havia mais motivo para estar internado num hospital de Roma e o melhor a fazer era voltar para seu quarto no Vaticano e esperar a morte, foi uma atitude sensata e de aceitação. Ninguém criticou... e nem deveria.

Esta máquina e esta situação, EVIDENTEMENTE, não é feita para mocinhas que brigaram com seus namorados e decidem morrer, como pessoas cruéis tentam disseminar.
Ela se refere a uma situação terminal, dolorosa, cuidadosamente equacionada. É só desta maneira que uma decisão correta pode surgir dali.