domingo, 5 de junho de 2011

AIDS, 30 anos depois. Uma memória.


30 anos hoje que eu estava em Nova Iorque.
Fiquei quase 2 meses no Bronx, de férias.
Numa época em que se entrava num avião como um rei e não como um inconveniente bagulho, feito atualmente.

O New York Times, que chegava de madrugada na frente da porta, trazia uma curiosa matéria médica: 5 jovens homossexuais de Los Angeles, de 29 a 36 anos, apresentavam uma Pneumonia por Pneumocystis Carinii.
O inusitado é que este tipo de problema só era conhecido em pessoas idosas, pacientes de UTI e transplantados que usavam doses enormes de imunosupressores. Ou seja, era incongruente que jovens no que se poderia chamar de maior vigor de saúde, apresentassem isto.
2 dos jovens gays já tinham morrido.
A matéria era a reprodução de uma nota do periódico médico MMWR.

Um mês depois o CDC (Centro de Controle de Doenças) de Atlanta, EUA, apresentava 5 casos de, novamente, jovens homossexuais com Sarcoma de Kaposi, uma doença de pele, com grandes manchas arroxeadas, o que também só era conhecido em pessoas com imunidade debilitada, especialmente idosos de certas comunidades judaicas.

De lá prá cá foram 30 anos de pesadelo para o mundo.
30 milhões de mortos.
34 milhões de sobreviventes, atualmente.
1 ano depois, o que se chamou no início de Peste Gay ou Câncer Gay, foi descoberta como a AIDS, tal qual se conhece hoje.
Muito progresso foi feito em termos de diagnóstico, de tratamento e de prevenção.
AZT e, depois, os inibidores da protease, deram aos infectados dezenas de anos de vida adicionais. Mas eles são caros e milhões de pacientes, especialmente na África, não têm acesso a eles.
Algumas países do sul do continente africano têm agora uma incidência de 30%. Ou seja, 1 de cada 3 pessoas do país tem o vírus.

A descrença custou caro a milhões.
Um dos primeiros casos que vi pessoalmente em Recife, foi de um inteligente rapazinho do interior, pobre, estudante de russo. Dizia a todo mundo que AIDS não existia. Era uma propaganda da Johnson para vender preservativos.
2 anos depois ele morria de AIDS ou talvez de tristeza.
Numa visita à sua velha mãe numa pequena cidade da zona da mata, quando ele entrou em casa todos os outros parentes saíram pela porta da cozinha.
Teve uma enorme diarréia e morreu poucos dias depois.

1. A vacina, prometida desde os anos 80, até hoje não aconteceu.
2. Testes rápidos deveriam ser dados em farmácias, como teste de gravidez. Um dos grandes problemas atuais é que em torno de 60 % dos positivos desconhecem isto. São estes os maiores disseminadores da doença. No último mês uma pesquisa bem conduzida mostrou que quando em um casal heterosexual o parceiro infectado começa um tratamento medicamentoso, a contaminação do outro diminui 96%.

Solidários com a tristeza de milhões de órfãos (sobretudo africanos), gays e todos os outros.
Uma geração de artistas de cidades como Nova Iorque e São Francisco foi devastada.
Que os próximos anos possam trazer a todos melhor tratamento, mais conforto e mais juízo.