O JC de ontem traz reportagem de 2 páginas de uma constrangedora história.
Padre Vito Miracapillo, 64, é um sacerdote italiano que decidiu trocar a bela península por um trabalho com os pobres do Nordeste do Brasil.
Estudou no seminário pensando nisto.
Em 1975 começou o seu trabalho pastoral na zona da mata pernambucana, uma das regiões mais pobres do país, ainda hoje.
Dominada pela oligarquia da monocultura da cana-de-açúcar e o seu cortejo funesto do patriarcado político, cuja mentalidade não evoluiu um milímetro desde que os seus escravos foram "libertados".
Em 1980, num gesto da maior dignidade, que nenhum brasileiro na sua tradicional covardia diante de "forças maiores" tinha feito, decidiu:
não celebraria missa OFICIAL no Dia da Independência -no 7 de setembro- pois o Brasil estava muito longe de ter qualquer coisa parecida com independência.
Em resumo, não havia, como não há até hoje (em circunstâncias diversas, bom frisar) nenhuma independência a comemorar.
Foi o bastante para o Deputado Severino Cavalcanti, que não entrará na História do Brasil nem como um risco de rodapé de página, exigisse sua expulsão do país.
Era o governo militar do Presidente Figueiredo e isto foi simples e fácil.
Agora, 31 anos depois, nossa vergonha é ainda maior.
Passamos 8 anos na Utopia tucana de Thomas Morus.
Depois 8 anos no conto de fadas sindical onde a classe operária quase teve certeza que tinha chegado ao paraíso e fez dívidas, junto com o próprio país, que vai ser difícil de pagar no futuro.
E por fim 7 meses do Governo Revolucionário de Dona Dilma.
E o Padre Vito Miracapillo continua tendo que dar explicações à Polícia Federal cada vez que desembarca no Brasil para suas férias anuais (deve ter um parafuso frouxo de vir passar férias numa semi-áfrica destas ! ).
Ninguém todos estes anos revogou a proibição para que ele volte a trabalhar no Brasil, como ele deseja.
Foi inevitável, pelo fato de serem italianos, a comparação com Cesare Battisti.
Se Battisti é o bandido que, chegando no Brasil, virou mocinho, graças ao apoio de Carla Bruni e de um bilionário escritório de advocacia "cumpanheiro", Padre Vito é o mocinho que virou bandido.
No parágrafo acima está o caminho das pedras para resolver situações deste tipo na nossa republiqueta de bananas, ou agora de minério de ferro e soja, que são as nossas maravilhas atuais.
Torço para que chegue este dia.
Será bom ter no Brasil alguém com coragem, dignidade e um passado de luta que, este sim, estará nos verdadeiros livros de história do futuro.