segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Amy e a dura realidade das necrópsias.




A idéia lançada pelos familiares de que Amy Winehouse morreu porque tinha parado de tomar álcool é muito improvável.

Já vi alguns casos na minha prática médica mas, comumente, são viciados com dezenas de anos de vício e que, muitas vezes, têm convulsões ou Delirium Tremens 2 a 3 dias depois de pararem de ingerir álcool, de repente.

Infelizmente a Medicina Forense brasileira mal saiu do século 18. Com IMLs lotados de acidentes de motos, corpos em decomposição e uma predominância de jovens, negros e pobres, o interesse do Estado em fazer necrópsias em padrões científicos é nenhum.
Vide o IML de Recife, que já foi matéria neste blogue.
Os do interior do estado nem se falam.
Parecem que servem apenas para atestar que a pessoa realmente morreu.

A cultura brasileira com a morte e com a lei também não ajuda muito. Familiares de mortos não querem nem ouvir falar em necrópsias para identificar exatamente o que matou os seus entes queridos e, menos ainda, em acidentes e crimes. Mandam os corpos porque é obrigatório. Mas o que queremos é prantear e enterrar os mortos e esquecermos das causas, das consequências e de quanto um exame detalhado pode ajudar a evitar outras mortes semelhantes.

Nas próximas semanas teremos a leitura deste juiz implacável que é a necrópsia.
Tanto para o bem como para o mal.

Quando Michael Jackson morreu as estaparfúdias teorias, de que tinha morrido de ataque cardíaco logo vieram de água à baixo. E as fantasias acabaram com o laudo que encontrou o propofol e vários outros tranquilizantes no sangue do grande artista que só queria "dormir com o meu leitinho", que era como ele chamava o propofol, por causa de sua consistência leitosa e cor branca.

Os apressadinhos também quebraram a cara quando o ator Heath Ledger morreu.
Um ator jovem, talentoso, rico, bonito, simplesmente não acordar de uma sesta parecia prosaico demais. Ouviu-se um coro universal dando a sentença : DROGAS!!!
Quando saiu o resultado da necrópsia não tinha nenhum sinal de droga.
Só remédios prescritos por médico e em doses normais.
Refletiu uma triste realidade da ansiosa sociedade norte-americana: todo mundo toma poderosos analgésicos + tranquilizante + antidepressivo e hipnótico (para dormir).
Quando isto tudo chega no sangue a um só tempo, o cérebro "esquece" de respirar durante o sono... e você morre.

Nas próximas semanas saberemos com exatidão se Amy será "canonizada", como quer a família, ou não.