quarta-feira, 25 de abril de 2012

Padre José Maria da Silva, 77 : a semente… e o Espírito Santo.




Foi sepultado na manhã desta quarta-feira no pequeno espaço aberto, entre o ex-Palácio do Bispo e a Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, o Pe. José Maria (PJM).
Antes todo o Clero realizou uma Missa Sollemnis, de corpo presente, cheia de entusiasmo.
(Entusiasmo na mais justa raiz grega: en + theos = encher-se de Deus ).

Nas homenagens que recebeu desde ontem de manhã, quando faleceu de forma súbita, 6 meses depois de ter um desmaio durante uma missa na Catedral e ter um AVC, muitos se pronunciaram.
Antes de cada um que o fazia, eu me perguntava:
De qual PJM ele vai falar ?

Só conheci 5 pessoas na vida que eu sabia não haveria elogios ou elegias suficientes para um obituário. Pois as palavras eram pequenas demais para a sua estatura.
PJM é uma destas 5 pessoas.

Algumas das inúmeras facetas do PJM :

1. O intelectual de sólida e erudita formação que preferia usar seu tempo para animação do meio rural, um lugar onde, na década de 60, o desespero mudo era o mais próximo possível de uma postura revolucionária.

2. O jornalista que se negava a reconhecer que a crise chegara à Diocese e ao jornal NOVA ERA-Era Nova, e que, durante muitos meses, escreveu quase todas as matérias, sobre todos os assuntos, e fazia o jornal com gráfica de chumbo, quase manualmente, na sua luta quixotesca contra a idéia de fechar o jornal.

3. O astrônomo que se encantou com o Universo e nossa pequenez e abriu o Clube de Astronomia de Pesqueira que, mais uma vez, inventou, reinventou e fez o impossível para não terminar.

Ufa!!!
São tantos lados deste interminável octaedro chamado PJM.

3 dos meus lados prediletos estão abaixo :

1. O amigo fiel, permanente e eterno.
Esta qualidade é única e só para os Iluminados.
Nunca vi PJM olhando para ninguém na vertical.
Todos eram iguais para ele.
E eu me perguntava qual era o segredo, numa sociedade tão claustrofóbica como a nossa, onde negros-se-reúnem-com negros, futebolistas-com-futebolistas, adolescentes-com-adolescentes, rotarianos-com-rotarianos, etc, de onde PJM tirava a energia para estudar a nebulosa de Caranguejo com um adolescente de 15 anos, os dois discutindo com uma alegria digna dos diálogos de Platão?

2. PJM foi o primeiro socialista que conheci na prática.
Chegado de Roma com toda a parafernália que só abastados estrangeiros tinham (gravadores de rolo com as Sinfonias de Beethoven; não apenas máquinas fotográficas poderosas, mas a inquietação de revelar os seus próprios slides nos banheiros do Seminário,etc,etc) nunca insinuou um "Meu" sobre qualquer daqueles objetos preciosos.
Se algum daqueles meninos, como eu o fiz, pedisse para ouvir o rolo da fita da Sétima Sinfonia de Beethoven, com o seu adagietto, que talvez seja a coisa mais aproximada do paraíso para os ouvidos humanos, ele não hesitava. Emprestava o gravador !
Nunca mais vi alguém tão despreendido!
Foi uma semente na alma de cada um dos seus alunos.
A razão da Civilização , mesmo em termo biológicos, e da Fé, é o seu contínuo aperfeiçoamento. Cada pessoa que conheceu PJM, saiu melhor do seu encontro.

Foi dele que eu, filho de motorista de caminhão, ouvi pela primeira vez alguém falar de Bach, de Beethoven, de Michelangelo e da Capela Sistina.
Tanta beleza me assombrava e me assombra ainda hoje.
Fazendo a vida melhor.

3. A última faceta que gostaria de citar, é espiritual. PJM, para mim, é a confirmação cabal da existência do Espírito Santo.
Se alguém tinha alguma dúvida sobre isto, PJM veio tirá-la.

O rapazinho semi-analfabeto do Sítio do Magé, em Alagoinha, que na década de 50 correspondia a milhares de quilômetros do mundo globalizado de hoje, vir para o Seminário de Pesqueira, depois para Olinda e depois para o Pio Brasileiro, em Roma, voltou falando e escrevendo em diversos idiomas, lendo música por partitura, tocando bandolim, copiando discursos com taquigrafia e obrigando meninos sertanejos que ainda urinavam na cama a acordar ouvindo a Paixão Segundo São Mateus, de Bach!!!
Se alguém queria uma confirmação da existência do Espírito Santo, PJM era ela.
Nenhuma Escola Americana da vida, com sua pedagogia de ponta, faria uma transformação tão ousada e radical.
Só uma obra do Espírito Santo chegaria a tanto.

Um espírito livre e unitário.
A maior parte dos padres de minha época optou por deixar o sacerdócio. Nunca vi PJM fazer nenhuma menção a este passo. O casamento dele com o sacerdócio e com a Igreja era "até que a morte nos separe".
Ou melhor, "até que a morte nos una na Eternidade".

Obrigado Padre José Maria por ter estado aqui e transformado muitos espíritos.
A minha vida, e de muitos, teria sido pobre - muito mais pobre - sem a sua presença.

Louvado Seja Deus !!!

P.S.: Fernando José, de Belo Jardim, divulgou no seu Orkut um álbum com 52 fotografias do sepultamento. Dão uma boa idéia do que lá aconteceu.

O link está abaixo:
(Lembrem de clicar nas fotos para ampliar)