quarta-feira, 9 de maio de 2012

Buenos Aires, Jorge Luís Borges





E a cidade, agora, é como um mapa
de meus fracassos e humilhações;
daquela porta vi os entardeceres
e ante este mármore esperei em vão.

Aqui o incerto ontem e o hoje claro
de toda a humana sorte; aqui meus passos
urdem seu impensável labirinto.

Aqui a tarde cor de cinza espera.
o fruto que lhe deve o novo dia;
aqui minha sombra na não menos vã
sombra final se perderá, ligeira.

Não nos une o amor e sim o espanto;
talvez por isso é que eu amo tanto."

em O outro, o mesmo,
Buenos Aires, 1964.

Copiado da ótima coluna de Luzilá Gonçalves