Brian Davis Mitchell
Elizabeth Smart.
Depois da mais do que falsa polêmica sobre o aborto, que levou o governo a um segundo turno que ele não contava, o futuro trará uma questão verdadeira:
vivemos num Estado laico ou numa Teocracia?
Está em andamento nos Estado Unidos, no estado de Utah, a pátria dos Mórmons, um julgamento sobre Brian Davis Mitchell.
Atualmente com 54 anos, considerado pelos da sua seita e autointitulado Profeta de Deus.
Ajudado por uma das suas esposas ele sequestrou Elizabeth, então com 14 anos, amarrou-a numa árvore e a estuprou... em nome de Deus.
Ele dizia ter uma ordem divina para engravidar adolescentes.
A justiça quer saber se ele é louco ou não.
A sua história pessoal não sugere que seja mais louco do que os outros da sua comunidade. Seu padrão de comportamento e crença é o normal entre eles.
(Evidentemente não estou falando dos mórmons, que são uma religião decente como todas as outras, mas da seita dele, em particular, que permite a interpretação que ele teve dos chamados "desígnios de Deus".
Qualquer que seja a decisão, os estados laicos mundiais não podem se curvar, em nome de votos ou apoios, à crenças particulares.
Deveria estar estampado em todas as constituições e em todas as Bíblias:
Você pode ter as suas crenças,
mas não pode querer universalizá-las.
Trocando em miúdos:
Você é contra o aborto?
OK. Não aborte. Recomende às pessoas que você conhece que não o façam, divulgue as suas idéias,etc. Mas não pode obrigar pessoas que não têm às suas crenças à se submeterem a elas. Ou então, não estamos num Estado Laico.
Se você quer viver numa teocracia se mude para alguns dos lugares mais atrasados do mundo, em termos de liberdade e direitos humanos.
Vá morar no Irã ou na Arábia Saudita.
Seria curioso reger um estado pela Bíblia.
Ela foi feita como livro espiritual inspirador
e não como livro de normas, ou Constituição.
Por isto não é contraditório que ela se diga
e desdiga em diferentes passagens.
A não ser que nuvens negras de obscurantismo voltem a cair sobre o mundo, e a marcha da História às vezes é marcha à ré de verdade, não chegaremos neste ponto.
É uma ilusão juvenil como certas religiões se acham "as únicas eleitas de Deus" e sua missão é catequizar e converter o resto do mundo.
P.S.: Como profissional de saúde acharia ridículo se a aplicação de vacina para Paralisia Infantil fosse decidido em algum culto religioso.
Não é assunto espiritual.
É assunto médico.
Assim também aborto, eutanásia,etc.
Deve haver uma norma de conduta como se estabeleceu para decidir quem está em morte cerebral e pode doar os órgãos, sem deixar a sensação de que se está matando alguém para beneficiar outros.
Os religiosos devem se ocupar com assuntos religiosos.
Se alguém quer construir o seu banheiro de uma forma que não fique virado para Meca, tudo bem. É liberdade individual.
Quando passar a exigir que todos os banheiros sejam construídos daquela forma, vira tirania contra os que não compartilham daquela crença.
E isto acaba sempre em rumorosas e inacabáveis confusões.