domingo, 22 de maio de 2011

Alfama, de Ana Sofia Varela





Quando Lisboa anoitece
como um veleiro sem velas
Alfama toda parece
uma casa sem janelas
aonde o fogo arrefece.

Nem numa água-furtada
no espaço roubado à mágoa,
e Alfama fica fechada
em quatro paredes de água
quatro paredes de pranto.

Quatro muros de ansiedade
que à noite fazem o canto
e se acende a cidade,
fechada em seus encantos
Alfama cheira a saudade.

Alfama não cheira a fado
cheira a povo, a solidão,
cheira a silêncio magoado
que só a tristeza contém.

Alfama não cheira a fado
mas não tem outra canção.
Alfama não cheira a fado
mas não tem outra canção.