sábado, 19 de novembro de 2011

O Entalhador de Madeira, de Chuang Tzu






"Khing, o mestre entalhador, fez uma armação para sinos, de madeira preciosa.
Quando terminou, todos que aquilo viram ficaram surpresos.
E disseram que deveria ser obra dos espíritos.

O Príncipe de Lu disse ao mestre entalhador:
-Qual é o seu segredo?
Khing respondeu:
-Sou apenas operário.
Não tenho segredos.
Há só isso.
Quando comecei a pensar no trabalho que me ordenastes protegi meu espírito, não o desperdicei em ninharias que não vinham ao caso.

Jejuei a fim de por meu coração em repouso.
Depois de jejuar três dias,
esqueci-me do lucro e do sucesso.

Depois de cinco dias
esquecí-me do louvor e das críticas.
Depois de sete dias
esqueci-me do meu corpo
com todos os seus membros.

Nesta época, continuou Khing,
todo pensamento de Vossa Alteza
e da corte se esvanecera.

TUDO AQUILO QUE ME DISTRAÍA
DO TRABALHO DESAPARECEU.

Eu me recolhera a um único pensamento:
a armação do sino.

Depois fui à floresta
ver as árvores em sua condição natural.

Quando a árvore certa apareceu a meus olhos,
a armação do sino também apareceu...
...nitidamente... sem qualquer dúvida.

Tudo o que tinha a fazer era esticar a mão
e começar.
Se não houvesse encontrado
esta determinada árvore,
não haveria qualquer armação para o sino.

O que aconteceu?
Meu próprio pensamento unificado
encontrou o potencial escondido na madeira.
Deste encontro
surgiu a obra
que vocês atribuem aos espíritos."

EU: Este texto é de um dos livros mais preciosos que encontrei na vida, O Caminho de Chuang Tsu, de Thomas Merton.

Esta postagem é dedicada a um amigo que, de certa forma, é também um artista e, além das técnicas de sua arte, deve também retirar tudo que impede o surgimento do seu talento ainda maior.

Assim como o artesão, que nada acrescentou na árvore para fazer o belo sino.

Ele apenas retirou o que havia em excesso... e deixou surgir a sua Obra.

Mais do que esta maluca profusão de atividades em que nos engajamos a cada dia, as coisas principais da vida, para surgirem, é mais uma questão de retirar excessos e deixar brotar o que já estava lá dentro, à espera.