quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Irmão Roger de Taizé

Não tenho idéia de com quantos santos cruzei na minha vida, corpo a corpo.
Tenho a certeza que Irmão Roger foi um deles.
Mais ou menos 10 anos atrás, depois de conhecer os Irmãos de Taizé na sua comunidade em Alagoinhas, Bahia, estive por alguns dias em Taizé, sul da França, perto de Lyon.
Lá moram cerca de 100 monges em uma vida ecumênica.
Tem padres católicos, luteranos e budistas, entre outros.
Milhares de jovens vão lá todo verão para refletir sobre a fé
e sobre a AÇÃO de cada um no mundo. 
Ao contrário do que acontece com os protestantes do Brasil,
lá ninguém quer converter ninguém.
Ninguém se acha melhor do que ninguém,
e todos são convidados a terem sua ação,
 dentro da religião que já praticam.

Após a oração da noite que é feita em grande silêncio, encaminhado pelo meu amigo Gilson Pereira que hoje mora em São Paulo e estava lá passando 1 ano e sentindo a possibilidade de entrar como monge, fui encontrar Irmão Roger.
Foi um longo e caloroso abraço e algumas poucas palavras.
Mas eu não tive dúvidas na hora, nem nunca depois,
de que tinha abraçado um santo.

Numa destas ocorrências chocantes e improváveis da vida,
em 16 de agosto de 2005,
ele foi degolado com uma faca, na hora desta oração da noite.
por uma romena de 36 anos, maluca com certeza,
que já tinha sido diagnosticada com esquizofrenia.
Ele tinha 90 anos e uma enorme santidade.

PS : Nesta oração da noite, quando lá estive,
depois de um prolongado silêncio na penumbra de poucas velas,
um menino português com uns 8 anos, chamado NOÉ,
começou a cantar um salmo que dizia
" não há maior amor do que dá a vida por quem se ama"
" Il n'est pas des plus grand amour, que se donner s'a vie pour c'est con aime".
A ocasião e a vibrante voz do menino me fizeram estremecer.
Tive a nítida sensação que estava morrendo,
que estava passando para uma outra platitude de vida...
e, ao contrário do que muitos imaginam e vêem este momento com medo e horror, aquilo era muito... muito... muito  bom.

PS : O presidente da Alemanha foi pro enterro  e,apesar dele
ainda ser oficialmente um  monge protestante,  as cerimônias
religiosas do enterro  foram presididas por um cardeal católico.