segunda-feira, 17 de novembro de 2008

MORTO-BOY


14.11.08 - Abaixo um texto perfeito para um assunto perfeito. do estadao.com. Resumi algumas frases.

Em Pesqueira a situação é menos grave, mas existe. Alguns motoqueiros correm demais prá ficar o resto do dia parados na Mototáxi. Não dá prá entender.


Motoboy/motorista=roleta russa


De um lado, cidadãos amedrontados se movem com seus carros por megacidades entupidas,fugindo de congestionamentos, pressionados por prazos, exigências profissionais , assombrados pelo risco de assaltos e aflitos com o perigo de cair na roleta russa de algum motoboy.

Por roleta russa entenda-se o trágico acaso de trombar com um, interromper uma vida e marcar a sua própria; ou ser atacado por um descontrolado de capacete - ou por uma nuvem deles, agredindo e destruindo...

Cidadãos apavorados se equilibram em motos entre fileiras de veículos traiçoeiros, tão hostis quanto seus ocupantes amedrontados, sem esperança de recuperar o emprego que perderam , aterrorizados pelo risco de verem ladrões levando seu veículo e ganha-pão, assombrados pelo perigo de cair na roleta russa .

Roleta russa é o choque que tira a vida de um motoboy a cada dia em São Paulo, a manobra brusca que o deixa sem poder trabalhar por mais de seis meses, a ameaça armada do preclaro senhor transmutado em rambo de pistola na mão.

Há um clima de temor constante nas ruas.

Onde há medo, há ódio e violência; onde há violência, há medo.

Não se trata de um simples círculo vicioso, mas de uma espiral que cresce e leva o conflito entre motoristas e motoboys a proporções imprevisíveis.

A lei não deu conta de regular essa convivência, atropelada pela realidade. O CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, de 1997, ia proibir que motociclistas se arriscassem entre os demais veículos, mas ninguém teve coragem de manter esta regra.

O número de motos cresceu (só em SP, 150 mil motofretistas), e o número de acidentes também. Em 2006, foram 6,8 mil, um aumento de 83%, segundo o Ministério da Justiça.

Em 2003, um projeto na Câmara dos Deputados tentava emplacar a proibição, mas não prosperou. 

As alternativas estão demorando.

Não se sabe se faixas exclusivas funcionam. Os rodízios não estão mais aliviando o peso do tráfego e o transporte coletivo demora a se tornar uma opção.

A falta de ação inteligente do poder público não é apenas desprezível. É um delito. Sem coragem para tomar decisões, políticos e autoridades, estão cidadãos dos dois lados à beira das soluções de barbárie.

Motoboys em hordas instantâneas podem a qualquer momento cercar um motorista para vingar um de seus manos protegidos, mesmo que o motorista tenha sido a vítima no incidente; motoristas podem, a qualquer momento, fazer justiça com as próprias rodas, mesmo que a vítima seja um pai em serviço que cometeu uma pequena barbeiragem - ou nem isso.

Cada lado se apropria e domina o espaço ocupado à força. Motos são espremidas quando ocupam uma vaga na fila e carros são chutados quando mudam de faixa.

O trânsito sempre foi uma expressão crua do primitivismo humano, dos impulsos rudimentares de cada um. 

E o medo pode acuar perigosamente as feras.

* de Ivan Capelatto: a raiva vem do medo