terça-feira, 27 de janeiro de 2009

ANTES QUE SEJA TARDE

Manuel da Fonseca


Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido
acorda !

Deixa de vez as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.

Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.

Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.

Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.

Abre os olhos e olha
abre os braços e luta !

Amigo, 
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.