domingo, 1 de agosto de 2010

Khalil Gibran



LOUCO


Perguntas-me como me tornei louco...

Foi assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas

– as sete máscaras que eu tinha confeccionado e usado em sete vidas. Corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, a gritar:

"Ladrões, ladrões.... Malditos ladrões!"

Homens e mulheres riam de mim e alguns corriam com medo para as suas casas.

Quando cheguei à praça do mercado, um menino empoleirado no telhado de uma casa gritou:

"Tu és um louco!"

Olhei para cima para o ver. O sol brilhou pela primeira vez no meu rosto descoberto.

Pela primeira vez o Sol beijava o meu rosto nu, e minha alma encheu-se de amor pelo Sol, e nunca mais desejei usar máscaras.

Assim me tornei um louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança na minha própria loucura.

A liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido.

Pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.


P.S.: A foto é de uma das mais belas obras de arte brasileiras: "O Manto da Apresentação" que era como o artista -Bispo do Rosário- que passou mais de 50 anos internado numa colônia de loucos, pretendia se vestir na Segunda vinda de Cristo.