quinta-feira, 17 de março de 2011

Corpo Anterior por Jorge Wanderley, poeta recifense.




Que faço aqui,
neste meu corpo,
amando
outro corpo, doado
- e estranho a mim?

Dois corpos desiguais
e no comando
o que eu decido.

E quem decide assim?

Estranho todos os departamentos
E eu sou um outro, que não pousa aqui.
Cada nervura, poro, o tegumento
— Desconheço de todo, nunca vi.
Altura que não quero, mãos esquerdas,
O que está velho e não forjou memórias,
O gesto alheio, o olhar sobre tropeços,
São crônicas já pálidas, a perda
Do nunca possuído: alguma história
Que espera no futuro o seu começo.


Foto: modelo Adrian Herrero,
por Marcos Pergon