Promotoria denuncia 29 policiais por tortura em treinamento
RODRIGO VARGAS, de Cuiabá :
O Ministério Público de Mato Grosso denunciou 29 policiais militares por suspeita de prática de atos de tortura durante um treinamento no qual um aluno morreu e quatro tiveram de receber atendimento médico de urgência, em abril de 2010.
A Promotoria ainda pediu a prisão preventiva de sete oficiais que comandaram o curso Tripulante Operacional Multi-Missão, oferecido a 30 policiais pelo Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas da Secretaria de Segurança Pública).
Durante quatro dias de curso, segundo a denúncia, os alunos foram submetidos a várias formas de tortura física (spray de pimenta nos olhos, chutes, socos, tapas e tentativas de afogamento) e psicológica (humilhações, privação de sono e ameaças de morte).
"A maior parte dos inscritos não poderia imaginar as sórdidas e desprezíveis situações às quais seriam submetidos", afirma um trecho da denúncia.
Dos 30 inscritos, 19 relataram ter sido vítimas de violência durante o treinamento. O objetivo dos instrutores, segundo a Promotoria, era forçar a desistência de alunos "marcados" --principalmente mulheres e alunos de outros Estados, que eram chamados de "estrangeiros".
Soldado da PM de Alagoas, Abinoão Soares de Oliveira, 34, foi um dos mais perseguidos pelos instrutores, segundo a denúncia. Submetido a seguidas sessões de afogamento durante um exercício realizado no dia 24 de abril, ele desmaiou, foi socorrido, mas morreu a caminho do hospital.
"Abinoão era agarrado e afundado. Os instrutores prendiam-no debaixo d'água, sobrepunham os pés em suas costas e ombros, impedindo-o de emergir. Quando erguia a cabeça para fora d'água, em atitude de patente desespero e pânico para conseguir respirar, os instrutores jogavam água em sua face, inviabilizando a recuperação até nova imersão."
A Promotoria pede que 17 denunciados respondam por crime de tortura seguida de morte e 12, por tortura. Entre eles estão coordenadores, instrutores e monitores do curso, além de oficiais que, segundo a denúncia, "acabaram por se omitir em face das condutas, quando tinham o dever de evitá-las."
A PM se manifestou por meio do coronel Joelson Sampaio, corregedor da corporação, que qualificou o episódio como "lamentável". A Secretaria de Segurança Pública não quis comentar o episódio. A Folha não conseguiu contato com defensores dos policiais denunciados.
RODRIGO VARGAS, de Cuiabá :
O Ministério Público de Mato Grosso denunciou 29 policiais militares por suspeita de prática de atos de tortura durante um treinamento no qual um aluno morreu e quatro tiveram de receber atendimento médico de urgência, em abril de 2010.
A Promotoria ainda pediu a prisão preventiva de sete oficiais que comandaram o curso Tripulante Operacional Multi-Missão, oferecido a 30 policiais pelo Ciopaer (Centro Integrado de Operações Aéreas da Secretaria de Segurança Pública).
Durante quatro dias de curso, segundo a denúncia, os alunos foram submetidos a várias formas de tortura física (spray de pimenta nos olhos, chutes, socos, tapas e tentativas de afogamento) e psicológica (humilhações, privação de sono e ameaças de morte).
"A maior parte dos inscritos não poderia imaginar as sórdidas e desprezíveis situações às quais seriam submetidos", afirma um trecho da denúncia.
Dos 30 inscritos, 19 relataram ter sido vítimas de violência durante o treinamento. O objetivo dos instrutores, segundo a Promotoria, era forçar a desistência de alunos "marcados" --principalmente mulheres e alunos de outros Estados, que eram chamados de "estrangeiros".
Soldado da PM de Alagoas, Abinoão Soares de Oliveira, 34, foi um dos mais perseguidos pelos instrutores, segundo a denúncia. Submetido a seguidas sessões de afogamento durante um exercício realizado no dia 24 de abril, ele desmaiou, foi socorrido, mas morreu a caminho do hospital.
"Abinoão era agarrado e afundado. Os instrutores prendiam-no debaixo d'água, sobrepunham os pés em suas costas e ombros, impedindo-o de emergir. Quando erguia a cabeça para fora d'água, em atitude de patente desespero e pânico para conseguir respirar, os instrutores jogavam água em sua face, inviabilizando a recuperação até nova imersão."
A Promotoria pede que 17 denunciados respondam por crime de tortura seguida de morte e 12, por tortura. Entre eles estão coordenadores, instrutores e monitores do curso, além de oficiais que, segundo a denúncia, "acabaram por se omitir em face das condutas, quando tinham o dever de evitá-las."
A PM se manifestou por meio do coronel Joelson Sampaio, corregedor da corporação, que qualificou o episódio como "lamentável". A Secretaria de Segurança Pública não quis comentar o episódio. A Folha não conseguiu contato com defensores dos policiais denunciados.
EU: esta notícia mereceu 5 linhas no JC e no DP. O Brasil já acostumou com todo tipo de violência. Ficamos insensíveis. Achei ultrajante que as pessoas designadas para defender o povo possam ter tal nível de sadismo. Espero que o inquérito esclareça tudo e puna quem tenha culpa. Abinoão deixou esposa e 3 filhos, de 9,11 e 15 anos.
P.S.: o Ministério Público de Mato Grosso levou mais de 6 meses para fazer a denúncia, o que já deixou a família e os alagoanos de orelha em pé.
Abinoão tinha sido diretor social da Associação dos Cabos e Soldados de Alagoas, e estava engajado na Força Nacional de Segurança.
Provável que tenha lido em algum lugar o famoso discurso de M. Luther King, nas escadarias do monumento de Lincoln, em Washington, D.C., onde ele sonhava que um dia os negros deixariam de ser cidadãos de segunda categoria.
Todos os brasileiros são cidadãos de segunda categoria, na medida que somos atingido pelas mais diversas violências a cada dia. É uma pena !!! Eu também tenho um sonho: de que, daqui a mil anos, este país possa parecer mais com a Dinamarca do que com o Sudão e a África do Sul.
Foto acima:
A tentativa inútil de ressuscitar Abinoão.
(clique na foto para ver ampliação).
A notícia da forma mais cruenta está no site do OlharDireto, com link abaixo.
O título é: