sábado, 6 de dezembro de 2008

Eugenio de Andrade IV

Torso, escultura de Auguste Rodin.

Green God

Trazia consigo a graça  
das fontes quando anoitece.  
Era o corpo como um rio  
em sereno desafio  
com as margens quando desce.  

Andava como quem passa  
sem ter tempo de parar.  
Ervas nasciam dos passos,  
cresciam troncos dos braços  
quando os erguia no ar.  

Sorria como quem dança.  
E desfolhava ao dançar  
o corpo, que lhe tremia  
num ritmo que ele sabia  
que os deuses devem usar.  

E seguia o seu caminho,  
porque era um deus que passava.  
Alheio a tudo o que via,  
enleado na melodia  
duma flauta que tocava.