O balanço de seis anos de Lula no poder não é animador, no meu entendimento. A política econômica privilegiou os mais ricos e deu aos mais pobres uma esmola. Há quem diga: já é alguma coisa. Respondo: é pouco, é uma migalha a cair da mesa de um banquete farto além da conta. O desequilíbrio é monstruoso. Na política ambiental abriu a porta aos transgênicos, cuidou mal da Amazônia, dispensou Marina Silva, admirável figura, para entregar o posto a um senhorzinho tão esvoaçante quanto seus coletes.
A política social pela enésima vez sequer esboçou um plano de reforma agrária e enfraqueceu os sindicatos. E quanto ao poder político? O Congresso acaba de eleger para a presidência do Senado José Sarney, senhor feudal do estado mais atrasado da Federação, estrategista da derrubada da emenda das diretas-já e mesmo assim, graças ao humor negro dos fados, presidente da República por cinco anos.
Houve, e há, justificadíssima grita quanto às privatizações processadas no governo FHC. E que dizer do BNDES que empresta aos bilionários para armar a BrOi, a qual (é uma modesta previsão) acabará nas mãos de ouro de Carlos Slim? E que dizer da compra pelo governo de 49% das ações do Banco Votorantim à beira da falência?
Isto tudo me leva a uma conclusão desoladora, embora saiba de muitíssimos leitores generosos e fiéis: minha crença no jornalismo faliu. Em matéria de furo n’água, produzi a Fossa de Mindanao, iludi-me demais, mea culpa.
Donde tomo as seguintes decisões: despeço-me deste blog e, por ora, calo-me em Carta Capital.
OPINIÃO DE LEITOR
Depois de seis anos, "isso que está aí" ficou aí
Do leitor que se assina Pedro Gomes:
Fui eleitor de Lula. Entusiasmado. Lula foi eleito para governar o país com a promessa de mudar "isso que está aí". Decorridos seis anos, "isso que está aí" ficou fortalecido e consolidado.
Sarney, Quércia, Temer, Barbalho continuam à frente do poder central e mais prestigiados. Lula fez acordos com os inimigos e, pior, foi cooptado por eles, abandonando antigos companheiros.
A corrupção aumentou, chegando às portas do Gabinete Presidencial. As despesas governamentais nunca estiveram tão elevadas. Quase quarenta Ministérios engessam a administração.
As invasões do MST tornaram-se comuns e o desrespeito à lei sem punição. A Câmara e o Senado nunca estiveram tão desmoralizados. A receita do FMI, tão combatida, é que guia nossa economia.
Lula desarticulou o PT, que se encontra dividido e sem personalidade. Lula continua ganhando a todos pelo discurso fácil, demagógico, enganador, sem conexão com a realidade, mentiroso e irresponsável. Num dia fala uma coisa, no outro desdiz. Uma lástima.
PS : Quase desnecessário lembrar aos leitores que este é um blog democrático e que os 2 textos acima são transcrições. Ou seja, não concordo com várias das opiniões acima. Por exemplo, lamentar que Lula tenha se afastado de pessoas maléficas como José Dirceu. Isto não me ocorreria. Fez bem à biografia dele.