sábado, 25 de setembro de 2010

Brasil sob ataque: a liberdade de imprensa não nos será roubada.



Este texto é tão importante, que desconstruo todas as normas deste blogue, de ilustração, de não copiar matérias de outros lugares só disponíveis para assinantes, etc,etc.

O artigo do editor do Jornal do Commercio de Recife, IVANILDO SAMPAIO, nesta sexta-feira, me tocou a fundo.

A imagem de bandidos travestidos de sindicalistas, reunidos na mesma sala onde jornalistas choravam no ombro de Dom Evaristo Arns ao receberem a notícia que Vladimir Herzog tinha sido assassinado pela ditadura, por causa da liberdade de imprensa, é CONTUNDENTE.

Evidentemente não são bandidos porque são sindicalistas, mas por quererem grandes MARCHAS PARA A FAMÍLIA, como a direita brasileira organizou para derrubar Jango, com a finalidade de roubarem o bem mais precioso que um país tem:
A LIBERDADE DE IMPRENSA.


Parabéns ao JC e seu fantástico editor chefe.


UMA AMEAÇA REAL


Ivanildo Sampaio

Quando o corpo do jornalista Vladimir Herzog apareceu enforcado nos porões do DOI-Codi, órgão de repressão do II Exército, após ter sido vítima de uma longa e desumana sessão de torturas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, tendo à frente o digno e corajoso presidente Audálio Dantas, iniciou uma brava e penosa jornada de protesto, que reuniu não apenas os colegas paulistas, mas se espalhou com um rastilho de pólvora por todas as redações do País. Movimento de protesto que reuniu, num manifesto, 1004 assinaturas de jornalistas de todo Brasil, denunciando aquela ignomínia que se consumava, sob o manto da mentira que vestia as versões oficiais e a indiferença de uma minoria silenciosa que só acompanhava de longe aquele tempo de escuridão. Jornalistas foram presos, torturados, exilados, muitos perderam o emprego e a saúde – mas havia sempre a esperança de que a liberdade cairia sobre nós.

No próximo dia 25 de outubro, daqui há um mês e dois dias, portanto, completam-se 35 anos daquela manhã trágica de sábado – quando a Nação impotente testemunhava mais uma morte provocada e promovida pela ditadura. Jornalistas de minha geração, que viveram aqueles tempos conturbados, lembram bem o clima de terror que pairava sobre cada redação, o medo que todos tinham da presença do censor que acintosamente se misturava com os profissionais da casa, o cuidado que se tinha para não desrespeitar as instruções proibitivas, que compreendiam desde a citação do nome de Dom Helder Câmara até uma simples música de Chico Buarque ou Geraldo Vandré. Mas, apesar de todo esse clima de terror, houve resistência: nasceram, lutaram e morreram os jornais e revistas da imprensa alternativa, entre os quais “Movimento”, “Opinião”, “Ex”, “Pasquim” e outros – pois “quanto mais escura é noite mas reluz o santelmo”, para lembrar uma frase de Andrade Lima Filho.

O presidente da República, um operário que foi vítima da intolerância daquele tempo, que cresceu como líder sindical exatamente porque houve, na imprensa brasileira, quem desafiasse a censura para divulgar o movimento classista que nascia no ABC paulista, esse presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, outra coisa não tem feito, nos últimos tempos, do que atentar contra a existência de um jornalismo livre, independente e crítico, como compete a qualquer democracia. O destemperado de Sua Excelência e dos áulicos que o incentivam geraram críticas contundentes de instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação Nacional de Jornais e, por último, da Sociedade Interamericana de Imprensa, mas parece que não bastaram para libertar o presidente de sua insensatez.

No entanto, o maior desrespeito à memória de Vladimir Herzog, nestes 35 anos de seu calvário – e de outros que morreram em nome da democracia – ninguém duvide, foi a utilização das dependências do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo para acobertar mais uma violência contra a imprensa livre. Lá, naquele mesmo espaço onde o Cardeal Paulo Evaristo Arns consolava companheiros e uma diretoria consciente de suas responsabilidades perante a História – à frente Audálio Dantas, Fernando Pacheco Jordão, Paulo Markun e outros – não se curvava diante dos poderosos de então – sentam agora dirigentes de centrais sindicais convocados pelo PT, idealizadores de uma manifestação contra a mídia. Têm como parceiros menores representantes da UNE, que hoje engorda seu caixa com verbas oficiais, e partidos políticos incondicionalmente aliados ao governo.

Foi assim que tudo começou na Alemanha hitlerista e na Itália de Mussolini: o amordaçamento ou a cooptação da imprensa, com o fechamento dos poucos veículos que ainda insistiram em resistir. É uma história muito triste. E todos sabemos que a história só se repete como farsa.

» Ivanildo Sampaio é diretor de Redação