quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Ei, You!" O inferno um mês antes do inferno.



Se alguma pessoa, além da delirante capa da VEJA, viu esperança no Haiti, pode encerrar a fantasia.

O GNT estava fazendo um documentário (EI,YOU.) sobre o mais pobre país da América, um mês antes do terremoto de 12 de janeiro. Transmitiu esta semana.

Algumas "pérolas" da miséria haitiana, já existentes antes da terra tremer com uma intensidade de 3o bombas atômicas de Hiroshima:

1 - os homens têm, em média, 4 a 5 mulheres e amantes, que dividem com os outros. Isto explica o enorme contingente de infectados por HIV no país, desde o início da epidemia. Existem teorias que o vírus saiu da África Central para o Haiti e daí, através de viciados de drogas injetáveis, entrou na comunidade gay americana.

2 - 80% das mulheres apanham dos maridos quase todos os dias. ... e vêem isto com absoluta naturalidade.

3 - dificílimo ver um velho, uma criança excepcional ou um aleijado nas ruas do país. As famílias têm vergonha deles e os escondem nos muros atrás das casas ou amarrados com correntes.

4 - Toussant Louverture, que em 1801 fundou lá a primeira república negra do mundo, fez uma revolução. Em 2 dias matou todos os brancos da ilha. No terceiro se vestiu de branco e reproduziu todos os hábitos do colonizador. Quem assistiu ao belo filme QUEIMADA, de Gilles Pontecorvo, pôde ver o que aconteceu.

5 - 80% dos adultos está desempregado. 50% vive com menos de 1 dólar por dia.

6 - por contraste, nos bairros ricos de Porto Príncipe existem casas com helipontos, onde os ricos só entram e saem de casa de helicóptero particular.

7 - os ricos e governantes nunca se interessaram em fazer um hospital público digno em Porto Príncipe. Prá eles é mais simples e mais barato, pegarem um vôo e irem tratar suas doenças na próxima Miami. O povo? que se ferre, devem pensar.

8 - REST'AVEC, abreviatura crioula do francês REST AVEC VOUS (fique prá você). Costume frequente entre o povo. Dá um dos filhos a outra família, que o trata como escravo. São crianças que lavam, varrem, cozinham e servem de objeto sexual dentro da família. Não têm direito a calçar sapatos (tradição de todo haitiano) e nem tocar ninguém. Só come o que sobra de toda a família. Uma sub-classe de escravos, dentro da já mais triste miséria. Existem aos milhares nas ruas de Porto Príncipe. Não é uma exceção, nem uma anomalia. É prática frequente na sociedade.

Alguém tem esperanças, além da VEJA, numa sociedade apocalíptica destas?
Eu não.

Pena que o documentário, do meio para o fim, vira um tedioso GLOBO REPÓRTER, a exaltar as bondades de coração do exército brasileiro que ninguém, até hoje, sabe exatamente o que está fazendo por aquelas bandas.