sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pão branco aumenta risco de infarto




Dieta rica em pão branco aumenta o risco de infarto

REPÓRTER - JULLIANE SILVEIRA

Dois grandes estudos divulgados nesta semana reacendem a discussão sobre os riscos, para o sistema cardiovascular, do alto consumo de carboidratos refinados, presentes em pães brancos e biscoitos.

O primeiro estudo investigou a relação entre infarto e dietas pobres em gorduras saturadas (já bem relacionadas a problemas cardíacos), mas ricas em carboidratos. Os pesquisadores, da Dinamarca, acompanharam 53.644 adultos durante 12 anos. A pesquisa concluiu que, para cada 5% de aumento de carboidratos na dieta, houve um risco 33% maior de infarto. Esse resultado foi publicado no "American Journal of Clinical Nutrition".

"Carboidratos com alto índice glicêmico aumentam as chances de problemas cardiovasculares por causarem processos inflamatórios, dislipidemias [alterações no colesterol] e disfunções nas paredes dos vasos", disse à Folha Marianne Jakobsen, especialista em nutrição e líder da pesquisa.

O outro trabalho foi divulgado no "Archives of Internal Medicine" e ligou o risco de doenças nas artérias do coração ao consumo excessivo de carboidratos refinados, mas só no caso das mulheres. Os pesquisadores acompanharam mais de 47 mil voluntários, por sete anos, na Itália.

Alimentos com alto índice glicêmico são assim chamados pela capacidade de aumentarem rapidamente os níveis de glicose no sangue. Com isso, o organismo libera altas doses de insulina, fazendo a glicose cair rapidamente e levando à sensação precoce de fome.

Para Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Hospital do Coração, o hábito de consumir excesso de carboidratos com alto índice glicêmico sobrecarrega e deteriora o pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina, e pode levar à obesidade. "As causas das doenças coronárias são muitas, e esse pode ser um dos fatores de risco", diz Magnoni.

Para preservar o pâncreas, é melhor se alimentar com nutrientes mais complexos, que demoram para ser absorvidos. "Há 5.000 anos, você não comeria açúcar refinado. Esse tipo de dieta é que leva às doenças da sociedade moderna."

O aumento da obesidade nos EUA é um exemplo do que acontece quando se trocam as gorduras saturadas, que contribuem para o aumento do colesterol "ruim", por carboidratos, diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo: "Houve redução significativa de colesterol na população nos últimos anos, mas aumento brutal da obesidade e outros problemas associados."

Os médicos recomendam que a dieta diária seja composta por 60% de carboidratos, preferencialmente de baixo índice glicêmico, e por 7% de gorduras saturadas.

Por serem digeridos rapidamente, os produtos com alto índice glicêmico levam a uma maior ingestão de calorias e consequente ganho de peso. A gordura acumulada pode liberar maior quantidade de ácidos graxos, que se alojam no fígado. Esse cenário pode piorar os índices do colesterol "ruim" e aumentar as taxas de açúcar no sangue (o organismo desenvolve resistência à insulina).

O tecido adiposo no abdômen também estimula processos inflamatórios nos vasos sanguíneos, favorecendo a formação de placas nas paredes.

Mulheres com taxas elevadas de triglicerídeos têm duas vezes mais risco de sofrer doença cardíaca do que o homem.

Colaborou Débora Mismetti