quarta-feira, 22 de julho de 2009

Arranca rabos

Arranca rabos (discussões ou lavagem de sujeiras) são sempre belos momentos, quando são feitos por pessoas inteligentes e, no caso da mídia, por grandes atores.
Esta semana teve um dos episódios finais da segunda temporada do excelente seriado EM TERAPIA, na HBO.
Gabriel Byrne - Paul Weston - (reproduzindo o seu papel de protetor em "Stigmata") é um terapeuta que acompanha 4 pacientes e é acompanhado pela supervisora Gina, Diane Wiest.
Ele está tendo uma crise de identidade: o pai, de quem era afastado, morreu poucos dias atrás; o pai de um piloto de caça aéreo está processando - acusando-o de não ter impedido o suicídio do filho. Os 4 pacientes estão em crises agudas e ele desaba.

Alguns trechos dos diálogos e a cena com um tour de force entre 2 grandes atores :

ELE: Os advogados estão certos quando dizem que os pacientes vêm para terapia prá se sentirem melhor. Mas, a terapia ou não resolve nada ou só os fazem piorar.
- Que percentagem dos seus pacientes você diria que melhoraram?
- Ouço cada paciente durante 45 minutos e então eles saem e vão fazer o que já iriam fazer.
- Quero fazer as pessoas felizes mas não posso.
- Você fica sentada nesta maldita cadeira com seus pacientes desmoronando na sua frente. Mas, em vez de ajudar, você os estuda como se fossem pedaços de um quebra cabeça.

ELA: Terapia é acompanhar o caminho da outra pessoa por um determinado tempo.
- Você quer a responsabilidade de decidir pelo seus pacientes. Isto é covardia.
- Se você interferir na vida dos seus pacientes eles se tornam dependentes de você. Você os aleija.
-Você sempre preferiu gritar a pensar.
- Os pacientes são seres humanos que enfrentam problemas profundos. Seja humilde para entender que nós não salvamos ninguém. Não podemos."

EU: Tenho um enorme respeito por psicoterapias. Já me ajudaram - e muito - nas caminhadas da vida. O paciente e o terapeuta têm que avaliar a conveniência de cada uma das formas de psicoterapia. Como as grandes emoções da vida - entre elas o amor e o sexo, em contextos que não dá prá estender em um blogue destes e que as pessoas comuns jamais vão entender - deve haver inicialmente uma grande fragilização da estrutura emocional para que você possa ir no mais fundo de si próprio. O amor e o sexo, por exemplo, prá serem totalmente aproveitados, têm que ter uma entrega sem restrições. 99,9% dos seres humanos jamais saberá o que é este sentimento.
Então, é preciso saber se o paciente pode suportar a fragilização que precede a compreensão e a melhora profunda dos problemas. Do contrário a terapia vira um inútil bate papo. Em termos prático, o comum é você se sentir bem pior, desabar, antes de começar a melhorar.Do estraçalho emocional pode vir a recomposição profunda e permanente.

P.S.: Esta série é extraordinária prá quem gosta do assunto terapia. A primeira temporada passou o ano passado. A segunda está terminando agora. São cerca de 50 episódios de 20 minutos. A primeira temporada já foi lançada em DVD nos EUA. Aqui no Brasil ainda não se tem anúncio de quando veremos em DVDs oficiais. Existe também as temporadas feitas em Israel, que é de onde veio a idéia do programa. Tenho muita curiosidade de vê-las, mas só existem em DVDs da área 2 da Europa.