QUEM FALA A VERDADE DEVE MORRER.
1981, documentário de Philo Bregstein, EUROCHANEL.
Em 2 de novembro de 1975 a Itália amanheceu chocada com o aparecimento de um corpo desfigurado na tranquila praia de Ostia, perto de Roma. Era um dos maiores cineastas, poeta e polemista de costumes que o país já teve, PIER PAOLO PASOLINI.
Não se importava a quem iria doer, quando publicava os seus trabalhos.
No cinema agradou a igreja católica com o filme O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS. Visto hoje parece primitivo e ingênuo demais, com sua câmara fixa e seus ângulos fechados, em preto e branco e sem qualquer arremedo das bobagens tecnológicas atuais, dá de 10 a 0 na carniceira Paixão, por Mel Gibson, de tremendo mau gosto.
Sua morte nunca foi totalmente explicada. O assassino foi sem dúvida um garoto de programa de 17 anos mas as teorias de que a direita italiana estava por trás do crime nunca deixaram de existir. Um amigo próximo dele encontrou semelhanças entre sua obra e sua morte e disse que ele encenou a própria morte, como um fecho para sua obra. Outros rechaçaram com indignação tal idéia, dizendo que ele estava realizando diversos projetos culturais, incluindo novos filmes e livros.
A verdade é que ele era o calo intelectual na Itália dos anos 70. Muitos o chamaram de louco e paranóide quando disse que via uma grande conspiração de banqueiros, políticos da Democracia Cristã que dominava a Itália desde o fim da guerra, mafiosos e personalidades do Vaticano. Quando bravos juízes italianos deram o golpe mortal no escândalo da Loja P2 viu-se que tudo que Pasolini imaginara era verdadeiro e os pôdres eram muitas vezes pior.
Deixou a esquerda italiana nocauteada quando, em um embate entre policiais e universitários, disse num longo poema, que não apoiava o fascismo policial, mas que os filhos da classe trabalhadora eram os policiais e não os estudantes.
Escandalizou o mundo muitas vezes. Entre elas com o filme TEOREMA, onde um anjo -na forma de um belo rapaz, Terence Stamp- chega inesperadamente na casa de uma família burguesa italiana de Milão, e através do sexo com a mãe, o pai, o filho, a filha e a empregada doméstica (não. Graças a Deus não tinha animais domésticos na casa ! ) descortina a dura realidade espiritual e emocional de cada um. Foi um tapa forte demais para a década de 70 e a Direita Italiana publicou verdadeiras Fatwas contra ele, quase dizendo que era um dever moral italiano matar aquele que ousava dizer tais coisas. Daí o nome do documentário, escrito entre outros pelo então jovem cineasta Bernardo Bertolucci.
"É intolerável ser tolerado"
"Aquele que morresse tuberculoso,
aos 13 anos, vestido de mujique (camponês russo )
seria talvez o único a ter razão.
Os outros se dilaceram entre si",
em Teorema.
P.S.: Para quem tiver tempo e interesse as Wikipedias trazem vasto material sobre PPP. Como quase sempre, a versão natal é quase sempre a mais substanciosa, no caso a italiana,com 41 páginas de texto.