segunda-feira, 15 de junho de 2009

AIR FRANCE 447

Tenente-brigadeiro Ramon Cardoso.

São 2 assuntos que eu não pretendia neste blog. Mas, respeito os meus sentimentos de ter alguma coisa a dizer, e desfaço propósitos não cumpridos.

A queda do AF447 é uma tragédia ímpar, dolorosa e inexplicável. Tudo isto transformado em hipérbole pela mídia e pela classe social e econômica das pessoas atingidas.
Seria, infelizmente, uma nota de pé de página um barco afundando nos confins do Amazonas e matando o mesmo tanto de passageiros.
A dor dos familiares provoca muitas reações tresloucadas, que são compreensíveis, mas não devem ser alimentadas.
Não faz qualquer sentido parentes virem do Rio de Janeiro tentar ver corpos decompostos e estraçalhados "para tentarem reconhecer as vítimas". Também não vejo porque as equipes de salvamento devam permanecer durante 1 ano no local, com grande custo financeiro,risco de vida,etc, só porque alguém acha que um corpo ainda pode boiar daqui a 1 ano. Fará alguma diferença para um corpo que vagueia pelo mar há 15 dias, com chuva, sol e peixes famintos, ser enterrado na terra ou na água ? Se eu fosse a vítima não faria qualquer diferença. Me deixa lá no mar.

PS: Uma correção feita hoje, do número de corpos encontrados, de 50 para 49, mostra a situação. Os corpos estão tão degradados que a carcaça de um animal marinho foi confundida com um dos corpos do avião.

Não pretendia falar mais neste blog deste desastre pavoroso.
Também nunca pensei fazer aqui uma matéria elogiando a lição de civilidade e profissionalismo dos militares brasileiros. O Brasil tem engasgado a resistência dos militares de hoje a abrirem os arquivos dos porões da ditadura, explicando aos familiares dos mortos o que aconteceu e onde estão seus restos mortais. Isto é um dever da HISTÓRIA. Não há como esconder isto. Só fica doendo por mais décadas. A esquerda também teme pela sua abertura. Alguns heróis de hoje podem ser desmascarados como dedos duros daquela época.
Os mesmos militares que agora se desdobram numa bela lição de solidariedade e competência, buscando os corpos do acidente, não têm interesse em explicar a dor dos mortos da década de 70 e 80. Por que? O puro corporativismo não explica. Na Argentina, Chile e todos os outros países em situações semelhantes, as novas gerações militares não assumiram os pecados da anterior, nem reconheceram uma anistia plena, que incluiu torturas e assassinatos e deixou a porta aberta da história para os golpistas do futuro: é só promulgar uma anistia ao final da situação e tudo está resolvido.
Então, prá resumir, grande louvor aos militares brasileiros que estão dando uma lição ao Brasil, no seu profissionalismo -personificado inteiramente no Tenente Brigadeiro Ramon Cardoso e no oficial da Marinha que o acompanha nas entrevistas.
Estão mostrando aos políticos midiáticos como se conduz uma situação tão triste como esta do AF447. Parabéns a todos. Quando terminarem o trabalho, voltem para os quartéis e façam o que a história espera que façam, e não os perdoará se não fizerem: entreguem, pelo menos na memória, aqueles que não honraram as armas e aproveitaram para matar, torturar e enriquecer ilegalmente, nos tempos da ditadura brasileira.
Os políticos brasileiros de esquerda, já se sabe, não estão interessados neste assunto.